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Hoje
eu sei que se você não me perguntou, não foi por não se importar, foi por já
saber a resposta, apesar de alegar veemente não saber. Você não me perguntou,
mas hoje, depois de ter aprendido a nadar e ter emergido do poço de lágrimas ao
qual você me atirou, eu resolvi vir falar mesmo assim. Não foi particularmente
nada que você fez, nem especialmente nada que você disse, foi justa e puramente
o abandono. Logo você, quem mais reclamava de abandono, quem me contava mazelas
de outros abandonos, me abandonar assim, seria cômico se não fosse tão triste. É
triste sim, repito, e não por eu estar chorando em posição fetal; não estou. É
triste porque é sempre uma lástima quando alguém que já foi querido sai da vida
da gente assim: quebrando tudo, sem nenhuma chance de volta. É triste,
sobretudo, porque achei que você fosse como eu.
Não
há perfeição nenhuma em mim e, talvez por isso mesmo, nunca tive costume e nem
gosto em cobrar nada de ninguém. Talvez tenha sido medo. O fato é que vi em
seus olhos algo parecido comigo, aliás, achei ter visto; achei ter encontrado
em você alguém que pudesse ser a minha exceção, alguém que poderia ter grande
espaço na minha vida e no meu coração. Pensei que você seria sempre quem leria
as coisas que escrevo, quem escutaria as músicas que escuto e quem dividira
comigo suas aspirações e inspirações; não pensei que você se tornaria uma: a
inspiração mais catastrófica de todas. Pelo visto, não era bem amor o que você
queria e hoje, só hoje, sei que esqueci de te avisar que comigo não existe
trivialidade, não existe isso de mais ou menos, não existe isso de amigos que
não se dão verdadeiramente as mãos. Aqui, não.
Talvez,
se eu te dissesse isso e tudo mais que ensaio na frente do espelho, você me
acusaria de injustiça, você me diria que vivemos bons momentos juntos, você me
diria que estou te cobrando amor. Vivemos, sim, momentos lindos; vivemos
momentos em que eu pude ver o infinito do horizonte, que pude chorar de rir,
que realmente acreditei que a amizade é um amor que não morre. Mas morreu.
Essa é uma carta posterior à minha partida, fui embora para não ter que
te cobrar nada.
com amor,
Ane Karoline
- texto do desafio de 24 textos em 24h