imagem por: weheartit.com

É uma correria desenfreada. Sem nenhum motivo aparente - além da urgência de estar em movimento constante. Com as crianças é sempre assim, é a correria a qual me refiro. A gente - essa gente que já passou da fase da urgência - nós estamos sempre freando as crianças. Aliás, mais que freando: estamos parando-as. Afinal, quem corre tem grandes chances de cair, né? Esfolar os joelhos, as mãos, o rosto e, quem sabe, perder um dente ou dois. Mas morrer não. Então por que deixar de correr? Ou melhor, por que impedir que os outros corram?
Eu já caí, já me atirei e já levei rasteiras tão violentas que achei que jamais fosse me reerguer novamente. Já fui arremessada de grandes alturas, enquanto sonhava mais alto do que queriam que eu sonhasse. Já tropecei em minha ânsia de querer resolver tudo. Já fui vencida pelo peso de tentar carregar o mundo nas costas. Mas derrotada nunca. Mesmo, várias vezes, tendo sido arrastada para longe de onde queria estar. Mesmo tendo sido devastada, mesmo tendo chorado todas as minhas lágrimas e, por vezes, tendo dito que jamais voltaria a tentar. Mesmo tendo desistido. Nunca fui derrotada: sempre existe uma chama, uma luz, um vaga-lume, que seja, para me fazer atenuar o meu desespero e insistir em prosseguir.
Me levantei. Com os joelhos esfolados, as mãos arranhadas, tonta de tanto cair. Várias vezes, me levantei somente para não permanecer no chão, incapaz de prosseguir. E mesmo quando fui incapaz de prosseguir, mesmo quando não acreditava em insistir, mesmo quando quis não existir, mesmo assim, nunca pensei em impedir ou desestimular a corrida alheia. Eu sempre soube que alguém tem que acreditar, alguém tem que correr, alguém tem que ter a urgência de viver e se esse alguém, por alguma queda específica, não sou eu, não devo dizer a ninguém para parar de correr, para parar de tentar, para parar de viver. Posso, como alguém que já tem calos das quedas, compartilhar minhas experiências mas sem, jamais, negar a possibilidade de sucesso do outro. As quedas não negam, e nunca vão negar, a nossa possibilidade de chegar lá. 
O que acontece é que, vez ou outra, nós não vamos ver o copo meio cheio, não vamos ver o lado bom. Mas alguém tem que fazê-lo. Afinal, a vida precisa continuar, certo? A máquina da vida precisa funcionar e ela não funciona sozinha. Alguém tem que acreditar. Então, não há motivos para quem tem urgência em viver frear. 
Por sempre acreditar em continuar, já caí e, muito mais que os dentes, perdi partes de mim que achei serem insubstituíveis. Por sempre acreditar, já perdi a credibilidade - me rotulam tola, inocente e insana. Por sempre acreditar, é que estou sempre a tropeçar. Mas em acreditar incentivo: é o que nos torna humanos. Mas em acreditar insisto: é o que, nessa dita insanidade, tem me guiado - e me guiará- ao longo dos anos. 




E você, tem visto o copo meio cheio ou meio vazio?


Com amor, 
Ane Karoline

Deixe um comentário

O tempo é maior presente que podemos dar à alguém: obrigada pelo seu. As palavras são afeto derretido, que tal deixar as suas? (Caso tenha um site, para que possamos presenteá-lo com nosso tempo,divulgue-o aqui). Forte Abraço.