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Todas as vezes me são diferentes, mas iguais: dói. Não vou dizer que é a dor do parto, mas é a dor de um nascimento - nascer, trocar de forma, trocar de pele, trocar ideais, é dolorido. Assim é porque para todo nascimento, existe uma morte, essa morte dói que é uma coisa, morrer em vida machuca porque alguma coisa morre, mas a gente continua vivendo para sentir a agonia. A mãe, quando o bebêzinho nasce, chora. O bebê também chora. Ambos sofrem por estarem rompendo aquela estrutura de relação - o bebê dentro da mãe - mas sabem que é insustentável: para que o bebêzinho nasça, o umbigo bilical tem que ser rompido. 

Minha morte em vida é a separação. Aliás, separação não, que separação é leve - parece que é só um afastamento. Falo é de ruptura, de quebra, de estraçalhar. Para mim, todas as vezes me são diferentes, mas acabam sendo iguais: algo dentro de mim morre. Fato é, e não posso negar, que em todas as vezes eu cometo a agradável tolice de achar que a ruptura não virá, ou de achar que não vai ser tão brusca. No ato de conhecer alguém, a gente nunca sabe que vai ficar aos pedaços depois, só os cacos. Imagine eu, que não sou vidente nem nada, não tem como saber, acredito de olhos fechados em quem for. O desmantelamento pode estar virando a esquina, outros podem vir contando isso e aquilo, que eu não vejo, faço a cega e dou uma chance - a mim e a quem vier. 

A coisa da chance, de acreditar que as pessoas valem a pena, já é bonita por si só. As próprias relações, todas elas, por um tempo também são bonitas, isso é outra coisa que não posso inventar e nem omitir: dos amores e amizades que tive, todos me acrescetaram de alguma forma. Uns apareceram só para me mostrar como é que não se deve tratar alguém, e até isso eu agradeço: te agradeço, fulano de tal, por me mostrar como é que eu jamais deveria tratar um amigo meu quando o tal amigo precisar de apoio. Tudo bonito, válido e tal, mas admito e repito: se eu soubesse que algumas rupturas me doeriam tanto, não teria aberto a porta da minha vida tantas vezes. 

Agora mesmo, sinto aquele tal incômodo de quem rompeu um cordão umbilical. A dor já quase não sinto, mas o peito segue apertado e a garganta seca; como quem ainda tem muito o que dizer mas sabe que nenhuma palavra resolverá o irresolvível. O tal laço da relação quem vem sendo rompido, agora já aparece, praticamente, morto; quase me dando espaço para nascer de novo. Digo que vem sendo rompido porque nenhuma relação se acaba da noite para o dia, de supetão, tudo que se acaba é aos pouquinhos, é no desgaste, e no que não foi dito e feito, é na brisa levinha que todo dia bate; bate tanto que uma hora leva a gente para longe. Estando longe, rompendo tudo, ambos sofrem, mas sabem que é insustentável: para que a paz nasça, é preciso que algumas relações sejam rompidas. 
Ane Karoline

Um Comentário

  1. Relacionamentos são complicados e o problema quase sempre está nas expectativas que criamos, o que esperamos da outra pessoa, o que projetamos nelas. Coisas da vida. O melhor é viver para si e viver bem consigo mesma. Assim tanto faz quem vier e se for... Suas palavras me deixaram pensativa. heheh

    bj
    Dani do Blog sabe o que é?
    http://sabeoque.blogspot.com

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