foto por: Ane Karoline em Museu nacional de Brasília
Hoje estou seca, não derramo mais lágrimas por você. Não que eu não chore, muito pelo contrário, cada vez que você me diz "tá bem" sem que estejamos bem; cada vez que você age como se eu fosse louca por questionar; cada vez que você anda de mãos dadas com as mãos que me atiraram lanças em chamas, eu choro.  Acontece que é um choro seco, tão cheio de dor, que é seco. É um choro tão dolorido, parece que as lágrimas querem sair das minhas entranhas, mas não saem; elas se esgotaram, para sair uma é um custo. Meu choro é aquele choro que soluça, que engasga, que falta o ar. Parece que levo socos repetidos no estômago, não consigo respirar, não consigo me levantar. De joelhos, me pergunto como foi que cheguei aqui, como foi que fiquei sem forças para argumentar, como foi que esgotei todas as minhas lágrimas. 

Aí, você vem, me faz umas perguntas e usa a mesma retórica de quem me feriu da última vez: "o que você quer que eu faça?". Eu não quero nada, digo. E, como sempre, sou sincera. Eu sempre fui sincera, talvez, demasiada e imediatamente sincera. Digo que não quero nada e repito aqui: eu não quero nada. Não quero que você faça nada. Se você não vê o que fazer, se você não me vê aqui, de joelhos, aos pedaços, não quero nada. Não há como resolver um problema que a gente não vê. Você me pergunta, ainda, o que foi que houve: você me ouve, mas não me escuta. Haver, no sentido de existir, muitas coisas existiram entre nós, mas você diz que não. Não, não, não. Escrevi páginas e páginas para tentar organizar meus pensamentos e conseguir te mostrar que dois e dois são quatro, que desleixo e alheação, juntos, são sinônimos de colapso, quebra. Não sei se nos quebramos ou eu me quebrei. 

A cabeça ainda está zonza, cheia dos zumbidos das nossas risadas, conversas, dos meus soluços e do jeito como agora você pronuncia o meu nome - quase soletrado para demonstrar afastamento. Mas apesar da zonzeira, da falta de ar, eu sei que a culpa não foi sua. Não é culpa sua que minha forma de amar seja expansiva, seja radical, sem hesitações, sem omissão, sem medo de gritar para o mundo, sem vergonha de que todo mundo saiba. Mas nada disso é amor se não for genuíno: não tenho direito de esperar que você seja como eu, posso apenas respeitar e me recolher. Portanto, culpa você não tem, mas a escolha foi sua -  você escolheu não escolher, você escolheu me dizer que eu estava exagerando, você escolheu usar exatamente a palavra que você sabia que me magoaria e que já haviam usado para me ferir antes: exagerada. Portanto, saiba que quando você me diz "a escolha é sua", você já escolheu por mim, escolheu por nós: escolheu continuar não me escolhendo. 

Com amor, 
Ane Karoline

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