Fui sobressaltada por me perceber livre. Veio tão de repente que posso jurar que levei um susto e tanto. Foi quase como se uma lâmpada tivesse se acendido em minha cabeça e, finalmente, me mostrasse onde eu estava. O lugar, em si, não era grande coisa: uma mesa redonda em um barzinho qualquer, decidido de última hora. O cenário era animadoramente comum: gente conversando, contando causos e piadas, rindo e compartilhando a alegria gratuita de estar acompanhando de quem quer estar nos acompanhando, alegria essa que aquecia meu coração quando fui atacada por esse susto e no meio de uma gargalhada percebi: não tinha nada a ver com você. Minha felicidade não tem nada a ver com você. Nem com ninguém. Nossa felicidade não deve depender de ninguém.

Para quem for mais sábio que eu, isso deve ser algo óbvio. Mas para mim, até então, não era. Por vezes, me adoeci pela constante titubeação em que deixei que você me colocasse: ora sim, ora não, ora quem sabe. Envelopei minha felicidade e te entreguei: toma. Foi a maior tolice que fiz. Não pela entrega, claro. Quando se trata de entrega, de energia, de se jogar, eu sempre apoio - nada de metades. Mas foi uma tolice. Foi tolice porque a felicidade é coisa singular, ímpar: minha felicidade é minha. É coisa que resolvo comigo, sinto comigo. É claro que, sim, podemos compartilhar momentos felizes com outras pessoas e, sim, as pessoas podem nos alegrar e nos ajudar a encontrar o caminho para a felicidade. Mas, ainda assim, a felicidade é ímpar: um só. Cada um com a sua. O tempo que demorei a perceber isso foi um deserto. E quão infeliz fui.

Quanta infelicidade carreguei dentro do meu peito que, de tão cheio, mal me cabia. Carreguei o peso que tentei colocar em você. Imagina só! Ser responsável pela felicidade de alguém! Um peso e tanto. Agora vejo que você bem que estava em plena lucidez quando recusou, jogou fora o envelope que te dei e foi embora. Realmente, não havia nenhuma possibilidade de você me fazer verdadeiramente feliz. Não existe a possibilidade de alguém me fazer mais feliz do que eu mesma.

Não me entenda mal. Mas o  que me arrebatou foi justamente isso: não foi você quem me fez feliz. Tive momentos felizes com você, claro. Mas tive momentos felizes com quase todo mundo que conheci. Isso não torna ninguém menos especial ou menos necessário em minha vida, mas me fez perceber que o denominador comum entre os raros momentos felizes que tive com você e todos os outros momentos felizes que tive na vida é algo bem simples: eu mesma. O fundamento da minha própria felicidade, bem aqui, no reflexo que vejo no espelho e nas vozes que ouço em minha cabeça. Eu. Ou seja, o susto que levei foi o de entender que - finalmente, livre- minha felicidade não tem nada a ver com você.

com o amor de sempre,
Ane Karoline

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