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imagem: pinterest

Os primeiros raios de Sol não deram exatamente as caras, uma chuva veranil tão pouco. Quanto mais eu dirigia, mais entrava em uma onda acinzentada nublada, o rádio alertava sobre o record de temperaturas altas na Antártida. Menos de 5 km de distância de casa e o trânsito já estava parado, o aplicativo piscava repetindo: em 30 km você chegará ao seu destino. Que destino, afinal? O destino seria, então, fazer um monte de coisas todos os dias mas, ao final, não ter feito coisa alguma? Desisto da rádio,  procuro um podcast para ouvir, já sofro pelos títulos:

 parlamentarismo velado
o maior desmatamento da Amazônia em cem anos
 a menina Ághata
a extinção de 67% dos animais selvagens
os mais famosos memes
a cultura do cancelamento

Sinto que gostaria de conversar com alguém sobre isso, sobre essa impotência, sobre traçar estratégias, sobre desistir, sobre insistir, sobre, ao menos, resistir. Sobre força. Queria subir no teto do carro e perguntar: alguém ainda tem força? alguém aí, ei, ainda tem força para lutar? alguém ainda está lutando? ou já desistimos todos?

Os carros ao lado são todos iguais: cada um com uma pessoa solitária como eu. Os poucos ônibus que passam também são siameses: todos aporrinhados de gente até o teto, gente que poderia estar compartilhando espaço e oxigênio nos carros solitários. O acostamento está cheio de carros furiosos, todos estamos atrasados. 

Entre buzinas, vozes de jornalistas e radialistas, episódios inacabados, e as mesmas músicas repetidas, o aplicativo me diz que o meu destino está à minha direita. Ainda sem sol, sem chuva, sem ar, olho para as nuvens esperando o sinal esverdear. Viro à esquerda, vejo o seu José, todo atribulado carregando uns cones, abrir o portão do estacionamento. Desço do carro ainda enevoada, nublada por dentro. Ajudo seu José a cruzar o estacionamento com os cones. Ele sorri um sorriso ensolarado e me agradece. 

 - Que é isso, fiz nada! - agradeço descrente. 
- Levantar todos os dias, sem desistir, e continuar vendo as pessoas é fazer muita coisa! - me golpeia ele. 

Entrei em minha sala e abri a janela, ainda lutando para ver um céu que em nada me agrada. Seu José me lembrou o que eu teimo em esquecer: quando não há, ainda, como remediar, a força nossa está em não deixar de lutar. Não desistir é chegar lá.

com amor, 
Ane Karoline

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