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Não quero falar sobre culpa; aliás, não mais. Não é por causa da culpa e nem com ela que ando engasgada. Apesar disso, mesmo que sem culpa ou remorso, venho admitir um erro meu.  De todas as coisas que você pode me acusar, essa eu assumo e bato no peito; não posso negar que fiz. Aliás, poder eu até poderia, as pessoas são acostumadas a lidar com gente que finge que não sabe que faz o que faz, não são? Mas eu não. Nem sou dessa gente e nem sei lidar com quem finge que não sente. Não se engane, não é por santidade e nem bondade; não finjo porque não sei fingir, soubesse, talvez colecionaria relacionamentos frívolos como outros tantos fazem. Entretanto, sendo cara limpa e alma flamejante como sou, vim aqui tatuar meu erro na pele da nossa história: eu achei que você fosse como eu.  

Foi uma crueldade desmedida a minha, agora vejo. Beirei o egoísmo, não foi? Achei que você fosse como eu, fiquei me procurando nas suas ações e reações, procurando meu cuidado no seu descuido, acabei criando uma emboscada para mim mesma e fiquei te esperando para me resgastar - mas você não é como eu. Para mim, foi uma grande ofensa você não me resgatar, você não me dar a mão, afinal, eu jamais hesitaria em te oferecer os meus dois braços. Esse é o ponto xis da questão: você hesita. Eu na beira do abismo e você ponderando, será que o abismo não tem razão em me puxar? 

Olhe, veja bem, não estou sendo injusta, sei bem que você até chegou a me amar, não foi? Prefiro pensar que você não simularia esse sentimento assim. Mas me amou em ondas, até que chegasse alguém para colocar esse amor em xeque e te tornasse pura hesitação: sei não. Eu não conhecia esse amor hesitante não, para mim sempre foi tudo claro- se amo, amo; faça chuva, faça sol; na frente do fulano ou do beltrano; na presença ou na ausência. E esse foi meu erro: tentei medir seu amor pela minha forma de amar e não coube.

Eu mostro a cara, chuto o pau da barraca, enfrento quem for, tenho o mesmo discurso na frente do padeiro e do papa. Eu luto contra mares e marés, multidões e solidões, choro e faço show. Faço o que achar que tem que ser feito por amor e por justiça- e isso tem lá suas dores e louvores. Louvores e desventuras que  gente que ama manso como você, não conhece e nem faz questão de conhecer; já não sei se por inaptidão ou desinteresse. Por não saber é que não me cabe julgar, somente aceitar. É por isso que não vim aqui falar de culpa, vim falar de liberdade, eu vim aqui libertar você. Não quero que você se sinta em débito por não amar como eu amo, por não ter esse amor que é febril e fiel - pelo menos, não por mim. Não quero que você sinta obrigação em agir assim ou assado, de fazer isso ou aquilo. Isso, é claro, não garante que eu fique feliz em ter esse amor pela metade que você oferece, esse amor que não se assume, nem garante que vou deixar a porta aberta. Entretanto, garante que eu respeite e entenda que a gente só pode dar o que tem: se você não tem amor, não o pode dar a mim também. 


Ane Karoline

6 Comentários

  1. Parabéns Ane! Seus textos são lindos! Adorei!

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  2. Que texto mais "tapa com luva de pilica" hehehehe Me identifico com as duas pessoas aquela que faz show e outras vezes eu fico em cima do muro ...Como você falou, pessoas são acostumadas a lidar com gente que finge que não sabe que faz o que faz, não são?Tem gente que só começa a nadar quando a "merda" ta no pescoço... Mas, essas pessoas reagem cedo ou tarde.

    xoxox

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  3. Uau que post lindo!!!
    cheio de sentimentos e muita sensibilidade e firmeza no que você escreveu!
    Parabéns

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