Pelas minhas contas, tinha certeza que ia dar tempo: aos 18 anos estaria com a vida ganha. Universitária, realizada, com um amorzinho leve para abraçar nos dias frios, cuidando dos meus pais como eles cuidaram de mim e curtindo a vida adoidado. Quando cheguei aos 18, pensei: se chegamos à meta, vamos dobrar a meta, é assim que se faz, certo? Me dei mais dois anos. Sempre pensando que quando tal coisa acontecesse eu, finalmente, me daria paz. Sempre supervalorizando o que poderia vir e não o que tenho. Aos 20, percebi que meu plano infalível parecia, então, estar falhando. E, aí, me assustei. E se tudo der errado? E se esse momento processual nunca passar? E se eu, que nem sei nadar, acabar morrendo na praia? E se eu...? E se?

De tanto me preocupar, acabei criando um monstrinho: medo horrível de não chegar a nenhum lugar. Afinal, o fulano já casou, já se estabilizou e eu ainda no cursinho de inglês. O temor em fracassar, começou a se tornar maior que a vontade de ganhar, maior que a fidelidade comigo e com meus sonhos. Dia após dia a rotina era me afligir: sem me permitir ser feliz. Quando o carro chegar, quem sabe, aí eu vou ter motivo para sorrir. Mas nessa ânsia de acertar, comecei a tropeçar em meu rastro, andando em círculos. Ah! Deixa para lá! Quis parar, mas foi aí que percebi: é de tanto não parar que a gente chega lá.

Na pré-escola eu tive medo, chorei, caí e levantei. Aprendi a ler. Depois tive medo de andar de bicicleta, de nadar, de viajar, do colegial e da faculdade. Tive medo de tudo isso e, durante várias noites, tive a certeza de que não iria conseguir. Mas, no fim, nunca parei. Segui. E hoje, a criancinha que aprendeu a ler aos 10 anos, está aqui. Não ali, não lá, não onde o fulano está: estou aqui. Estou exatamente onde me era cabível estar e sei que, apesar de ainda ter muitos travesseiros para molhar, vou, sempre, me levantar, e chegar lá: onde quer que eu tenha que chegar. 

Ansiando pelo paraíso, Ane Karoline (Texto sugerido pela Érica Rodrigues)

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