De mãos dadas, outro dia, nos chamaram de casal. Depois, na fila do pão, alguém me perguntou se não brigávamos. Eu sorri e respondi que sim, brigávamos. A pessoa sorriu aliviada. Achei engraçado e, caminhando para casa, tentei me lembrar da última vez em que havíamos brigado. Não lembrei e, ao invés disso, ansiei em te contar o ocorrido. Ansiava em te contar tudo, na verdade. Sua opinião sobre os assuntos, que geralmente é diferente da minha, sempre me interessa, me acrescenta e me faz rir. Antes de te contar, parei para pensar e não sabia se era trágica ou cômica a situação: as pessoas se surpreendem com amor entre irmãos. 

Para mim, parece loucura. E, ao mesmo tempo, é triste: soar inapropriado ter afinidade com alguém que sabe tudo de você, que sofreu, sorriu e chorou com você. Eu não consegui entender, fiquei assustada. Como, na fila do pão, não tinha você comigo, comecei a devanear sozinha e fiquei em choque quando percebi que o amor sem interesses parece ter perdido a credibilidade. O amor que torce pelo sucesso do outro sem nenhum interesse ou inveja, parece mentira. Horrorizada pensei: o mundo desaprendeu a amar. Com lágrimas nos olhos eu quis te ligar mas, por saber da sua rotina, preferi esperar você chegar em casa para desabafar. Disso, pelo menos, eu sempre poderia dispor: sua companhia, mesmo quando silenciosa, a me conter. Será? Com você o mundo é mais lar.

Agoniada com minha constatação, comecei a temer o futuro: nós vamos graduar, casar, viajar e nos separar. Que desespero. A descrença alheia começou a me afetar. Lembro-me do momento exato em que chegou em casa: depois de um dia exaustivo, ao invés de reclamar, me viu aflita e quis saber como eu estava, como havia sido o dia e me ordenou: deixa de bobagem! Deixei. E num abraço percebi: não há maior conexão que o abraço de um irmão.

Com muito amor, para os meus pimpolhos, Ane Karoline (texto sugerido por Angelo Dourado)

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