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"De repente você está assustado e não sabe o que te assusta"
Quando me percebo prestes a desmoronar, limpo o quarto, arrumo a cama, tiro os lixos jogados no canto do quarto, organizo todas as roupas por cor e me deleito arrumando a escrivaninha. Literalmente. E isso sempre funcionou, até que, finalmente, pude me ver no espelho e percebi: a verdadeira bagunça estava dentro mim. Desisti de dissimular. Vesti minha expressão de "hoje não" e decidi me dar um tempo: coloquei-me a assistir (pela milionésima vez) uns dos meus filmes preferidos e observar o que a minha personagem favorita faria - atitude bem madura, eu sei.
Nada, foi tudo que Holly Golightly fez. A casa estava uma zona,  os sapatos espalhados, o telefone, guardado e abafado para não lembrá-la, tão cedo, dos problemas que insistiam em chamá-la. Quando questionada, ela se justifica dizendo que já que ainda não encontrou a si mesma, não haveria razão para empenhar tempo em construir um lugar, físico, de morada permanente. E, confesso, ponto para você, Holly: a nossa primeira casa, é dentro de nós e de lá não há como fugir. 
"Não importa para onde você corra, você sempre vai acabar correndo para dentro de si mesmo."


Mas a gente foge: e como foge! Eu mesma, confesso, sou uma fugitiva assumida com radicalidade, mas fujo de outros, nunca de mim. Um passo além da conta e lá estou eu: fugindo para longe de quem quer que seja que tenha tido a valentia de se aproximar demais. E nisso, também, Holly me compreende muito bem. 
"Pessoas não pertencem a outras pessoas."

Poderia parar por aqui e concordar com todos os pensamentos - mundialmente glorificados- de Holly e assinar, definitivamente, minha carteirinha da pessoa mais cliché do universo. Mas tenho que dizer que, diferentemente de Holly, eu, ainda não tenho forças para ficar. Eu sempre chego perto de ficar. Sempre chego perto de ser maior que o medo de me perder. Sempre chego muito perto de, finalmente, aceitar que existe um lugar que me cabe e no qual eu esteja disposta a ficar, um lugar que valha a pena ser arrumado, organizado e trabalhado. Eu sempre chego muito perto, até perceber que ainda não. Ainda não encontrei esse lugar  que "eu não sei onde é, mas sei como é" e quando eu o encontrar, acredito (como Holly) que saberei reconhecê-lo. 



Ane Karoline






8 Comentários

  1. Ane, dizem que quando estamos com problemas internos e queremos resolver, temos de começar a limpar a nossa "casa externa". Por isso temos mania de desapegar das coisas. Isso dá uma sensação de leveza, bem-estar, recomeço.


    www.blogdahida.com

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    1. Sempre acontece comigo, cada coisa jogada fora, um suspiro de alívio. A gente vai se ajeitando, rs.

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  2. Que texto lindo!
    Eu também me pego às vezes fugindo dos problemas, ou tentando fugir de mim mesma. Sei que um dia não haverá outra saída a não ser agarrar a oportunidade, encarar o problema e me tornar dona do meu destino. Mas que medinho que dá!
    Bjs,

    www.diarioquaseescritora.blogspot.com.br

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    1. Imagina só: se perder dentro de si mesmo! Que medinho que dá, rs.
      Volte sempre, Lê. Vamos compartilhar sentimentos em comum.

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  3. Olha, muitas vezes passei por essa situação... Acho que todo mundo já passou pelo menos uma vez na vida... E você conseguiu exemplificar e expressar tudo isso de forma magnífica! Parabéns! :*

    http://www.leiturasecomidinhas.com.br/

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  4. Ameei seu texto!! As vezes a gente passa por coisas que não sabemos explicar e dar logo um desespero, isso é super comum!! Beijo! Gabi Farias

    http://leituraporexcelencia.blogspot.com.br/

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    1. É verdade, Gabi! Nada melhor que escrever, nesses momentos, rs.

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