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Acordo. Hoje acordo no horário, sem dores nos joelhos e nos punhos, sem frio graças ao calor e ao sol exuberante fora da minha janela. Como se nada no mundo fosse capaz de me afligir, simplesmente por ser um dia ensolarado, vou logo abrindo tudo: a janela, o chuveiro, o peito, o sorriso. Preparo um café forte, corto frutinhas, coloco-as em um prato branco, me sento comigo mesma para degustar um dia lindo prestes a começar. Saio de cabelo molhado mesmo, deixo que o vento o seque  alto, livre, solto, expressando a força, a audácia, a euforia e o sol latentes dentro de mim. Quem me visse assim, seria capaz de supor que o sistema solar inteiro dependia de mim, não fosse pelo desconforto que o vento, já forte demais, me traz ao andar pela rua às oito da manhã. Sopra tão gélido em meus ouvidos que me traz uma lembrança sua, você, que sumiu, estou ainda sem notícias. 

Esperando pelo metrô, vejo nuvens se aproximando, vindo da esquerda e da direita para unirem-se no meio, como se houvesse algo de magnético sobre a minha cabeça atraindo-as. Alguns segundos sem ver o sol e já percebo o calafrio percorrer minha espinha de baixo para cima: por que raios eu estava tão feliz ao começar o dia? Talvez não tenha sido uma boa ideia sair com os cabelos molhados, a umidade começa a me lembrar o dia em que tomamos uma chuva e você parecia me amar daquele jeito louco que só os adolescente conseguem amar, mas logo depois você sumiu; não tive notícias suas. Agora estou com frio, é sempre muito frio quando não tenho notícias suas. Entro no metrô antes que a primeira gota me alcance, a cada estação, vejo pessoas entrarem gotejadas de chuva. 

Uma hora depois, eu com a cabeça recostada no encosto duro do assento do metrô, os olhos fechados para evitar o enjôo de estar sentada do lado contrário ao qual nos movíamos, sinto meu celular tocar antes mesmo de escutá-lo; é você. Não escondo minha empolgação e afirmo, talvez um pouco alto demais, que, sim, é perfeitamente possível almoçarmos juntos hoje. Tanto tempo conversamos que nem percebi a moça na minha frente tirando o casaco e a claridade voltando a aparecer. Quando desembarco, já não sinto mais frio algum, coração e corpo quentes, o Sol já voltara resplandecente. 

Entre pausas de leitura da previsão do tempo, tento ler as entrelinhas do que você me diz "adoraria ver você hoje". Adorar é desejar? A manhã inteira é uma agonia, fecho e abro as janelas, ligo e desligo o ventilador, estou sempre sob o glacial ou escaldante, não há um meio termo. Você tampouco me ajuda, me envia mensagens as quais me animam e me derrotam com a mesma intensidade, não consigo saber o que você está pensando. Por várias vezes, o vento me lembra do casaco esquecido sobre a cama, outras tantas, penso que poderia ter calçado algo mais leve. Olho através da janela pela quinquagésima vez, me vejo refletida no vidro e vejo como o clima nunca é ameno: nem fora, nem dentro. Junto com a ventania, meu peito não sossegou um minuto e ainda não são meio dia, não faço ideia do que nos aguarda; seja em nosso almoço, seja na chuva que tomarei logo ali na esquina.

Com amor, 
Ane Karoline -
 texto do desafio 24 textos em 24h


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