Alice, uma jovem de 21 anos,
inteligente, animada, tímida – na maioria das vezes. Era determinada e, ainda
assim, medrosa. Para simplificar, é possível dizer que é um poço de
controvérsias e, assim como si mesma, a vida também a era. O mundo, desde que é
mundo, sempre tivera essa surpreender capacidade de se transformar rapidamente.
Daquela vez, não seria diferente: em meros, insignificantes e terríveis, três
minutos, o momento mais importante de sua vida lhe fora apresentado. Um momento
que conseguiu ser mais importante que sua graduação e que sua primeira
pronuncia em uma língua que um dia dedicou a aprender. O tal acontecimento, talvez,
só não seria maior que seu maior e verdadeiro amor.
Assassinato, morte, sangue, medo.
Um pacote de coisas ruins, mas não para Alice e não naquele momento. O pacote se
diluiu nos três minutos. No primeiro minuto: um casal passou ao seu lado, aos
beijos, entregues aos desejos, parados em um tempo próprio, naquele minuto
exato – 02:33 da manhã – um horário comum e animado para universitários em um
sábado. No segundo minuto: um surto, um grito gutural que vinha da garganta de
uma das pessoas daquele casal, provavelmente, apenas mais um ataque de ciúmes,
por uma simples e insignificante olhada para a direta, ou esquerda - quem sabe.
A cena tornava-se apavorante até para quem já não está mais vivo, mas,
estranhamente, aquilo não se mostrava estranho para a doce e feliz Alice. O
grito puxou-a de qualquer pensamento gratificante que o álcool proporcionava em
seu sangue e no momento em que sua visão tomou foco pode ver o sangue, o corpo
caído ao chão e a si mesma sobre ele. O terceiro minuto era o definitivo: olhava
suas mãos sujas com todo aquele sangue e só se perguntava como aquilo havia
acontecido, mas, antes de qualquer palavra sair de entre seus lábios, foi
atirada contra a parede. Levantou logo em seguido e viu todo mundo olhando para
o chão, para o sangue que insistia em escorrer e chegar até seus pés descalços.
A outra pessoa, que compunha aquele casal qualquer, agora chorava e gritava se
perguntando o porquê.
Em três minutos, Alice saíra de
apenas uma bêbada, para uma assassina a sangue frio. Não sabia, não se lembrava
de nada, aqueles três minutos mantinham-se apagados de sua mente, e não queriam
revelar-se, por mais que forçasse. Caminhou em direção à saída, sentindo os pés
grudarem no chão com o viscoso daquele líquido. Já do lado de fora, se jogou
sobre a grama e ficou olhando o céu que brilhava excessivamente para o momento,
mas, ainda assim. tão lindo que parecia ser a última vez que fosse brilhar.
Novamente, os três minutos pareciam se
dissolver, dessa vez, em dez exatas lágrimas. Na primeira lágrima, deu o
primeiro golpe, um estrondoso e forte tapa na face esquerda, cansada de viver
no escuro por três minutos mais importantes da sua vida. Na segunda lágrima, um
grito. Na terceira, mais um tapa. Na quarta, uma forte pressão na barriga. Na
quinta, a ânsia. Na sexta o desejo. Na sétima, um pedido de ajuda. Na oitava, a
realização de seu desejo. Na nona, a resposta. Na décima, e última, o alívio.
“Você
salvou um estranho, Ali.”
Pedro Henrique