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Eu sei. Eu disse que tinha fechado a porta, mas não fechei: deixo-a entreaberta para o caso de você se encontrar e perceber que o seu caminho, por si só, leva a nós dois. Por enquanto, vou caminhando também, sem excluir a possibilidade de -quem sabe um dia- conseguirmos encontrar espaço para nós aqui dentro. Esse nós que, de tão simples, passou despercebido. Esse nós que, por repetidas vezes, foi tido como morto. Esse nós que, agora, vejo estampado em cada linha do meu rosto - linhas que ficaram pelos sorrisos e pelas lágrimas. Esse nós que me impediu de fechar a nossa porta.
Eu admito: não foi por falta de incentivo.Eu disse a mim mesma umas quinhentas vezes - e o dobro de vezes ouvi de outros: esquece, fecha a porta, joga a chave fora. Não o fiz. No fim, ninguém sabe qual é a chave que nos destranca inteiros. E foi por isso que, tantas vezes, hesitei em colocar um ponto final nessa história que, de tão previsível, se tornou uma estória. Hesitei porque não existe ponto final logo após uma vírgula: após a nossa última vírgula, achei que haveria uma última palavra que gerasse, ao menos, uma catarse para, enfim, ocasionar o ponto final. Esperei como quem espera algo importante após os dois pontos: nada aconteceu.  Vou abrir mão da ortografia dessa vez. Depois de tantas vírgulas, depois de tantas palavras entre vírgulas, não tenho mais ânimo para escrever nada que leve a um ponto final, a um digno final. Portanto, estou deixando a porta aberta.
Eu sigo. Eu disse que não olharia para trás mas olho. Não que eu vá voltar, mas vez ou outra alguém, algum lugar, um cheiro, um sabor, um nome, uma música ou alguma coisa me faz olhar e sei que não há como evitar.  Olho, agora, caminhando para longe, sem medo. Olho, a cada passo mais distante e tudo vai ficando menor. A miopia você já conhece: quanto mais longe, menos visível, mais confuso, mais fraco, mais morto. Até que seja apenas um borrão distante demais para que signifique alguma coisa. De longe, é um borrão sempre presente, mas sem qualquer significado.
Eu decifrei. Eu disse adeus porque, dessa vez, eu parti.  Ao invés de fechar a porta que me levava até você, e ficar te esperando voltar e bater, eu a escancarei e segui para o lado oposto.Caminhando para longe da falta de coragem e frigidez que sempre me assustaram. Me apressei mais em seguir que em resolver problemas sem fórmula ou solução.  Deixei a porta aberta mas não foi para te ver voltar, foi porque, estando ocupada em seguir, não me preocupei em fechar.



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