"Que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer..."

              Como os versos de uma das minhas canções favoritas, me questiono o que fazer agora. É engraçado como as pessoas tornam-se partes importantes de nossas vidas, de nosso cotidiano. Incrível como um sorriso de alguém que se gosta melhora o nosso humor. Admirável o poder que existe no simples ato de perguntar se alguém está bem, ou como vão as coisas. Mas, em um raciocínio linear é perceptível também que o costume de ter esses mimos configura uma dor absurdamente perturbadora, quando sente-se a solidão de se sentir esquecido.

É difícil ser fraco quando todos pensam que você é forte. É difícil se permitir brincar, quando todos esperam que você aja como o adulto que é. Sou? Tenho opção? Quando vi o tempo já havia passado, e chorar não era mais aceitável. Não que antes fosse. Quantas broncas e tapas levei para aprender a engolir o choro. Homem pode chorar, diziam, mas não deve. Uma das coisas que aprendi durante o crescimento foi a chorar sozinho.
Você engole os soluços, põe a mão na frente e prende o máximo que puder. Só os olhos choram, os ombros tremem, o nariz entope, mas ninguém pode ouvir. Então você corre no banheiro e limpa os vestígios. Se olha no espelho e enxerga aquela bagunça ambulante. Se puxarem o fio certo eu me desmonto inteiro, tamanha a desordem que existe em mim. As paredes da minha mente estão pichadas com nomes feios. As vozes dentro dela me atormentam à noite. 
Eu não sou de viver de passado, mas confesso que às vezes ele me assombra. Vivo com um hóspede em minha mente que se chama ansiedade. Ela está sempre lá. Pra me lembrar das minhas inseguranças e medos. Para me levar ao pessimismo, ao sentimento de ser negligenciado. Ela me encara com cara feia e me diz que não posso ser feliz. Tem gente que não nasceu pra ser feliz, lembro de ouvir dizerem. Nasceu sob uma estrela ruim, com um destino ruim, com uma alma ruim.
O preto na alma é uma cor como todas as outras. Só não é enxergado assim. Sei que estou triste por que imediatamente a imagem do meu corpo caindo em águas escuras e frias inunda minha mente. Sempre conectei a tristeza a um oceano tão escuro e frio que não se pode chegar à superfície. Sempre que eu sinto, eu sinto demais. Eu queria não ser assim, mas mudar meu âmago exige uma energia que eu não tenho. Se esforce, force, até que obtenha resultado. Somos responsáveis pelas mudanças que existem dentro de nós. 
Acho que não serei um bom administrador de uma casa, de uma família, no futuro. Mal sei me administrar. Nunca me deram curso de como ser adulto. Nunca me ensinaram como meus pais tem todas as respostas, ou como sobreviveram a todas as dores que um dia enfrentaram. Talvez por isso eles sejam estoicos. Sempre foram muros, ante as mazelas da vida. Eu sempre fui apenas uma árvore, me dobrando ante os desafios, maleando para me formatar a um ponto em que consiga me equilibrar na vida.
Só que ela sempre foi corda bamba. E eu acabo olhando para baixo, e vendo o quanto a queda é feia. O pé ferido de tanto tentar se equilibrar na corda, as costas doendo da posição infeliz, mas cair seria ainda pior. O chão chegaria rápido, a dor duraria pouco, mas a recuperação seria impossível. Ainda assim, há beleza em viver se arriscando. Enquanto o silêncio continua sendo minha única resposta, junto ao eco dos meus gritos por auxílio, vou me acostumando ao som da minha voz. E como não consigo esquecer você, talvez deva tentar esquecer de mim...


Adolfo Rodrigues

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