Você não me ensinou a te esquecer..."
Como os versos de uma das minhas canções favoritas, me questiono o que fazer agora. É engraçado como as pessoas tornam-se partes importantes de nossas vidas, de nosso cotidiano. Incrível como um sorriso de alguém que se gosta melhora o nosso humor. Admirável o poder que existe no simples ato de perguntar se alguém está bem, ou como vão as coisas. Mas, em um raciocínio linear é perceptível também que o costume de ter esses mimos configura uma dor absurdamente perturbadora, quando sente-se a solidão de se sentir esquecido.
Você engole os soluços, põe a mão na frente e prende o
máximo que puder. Só os olhos choram, os ombros tremem, o nariz entope, mas
ninguém pode ouvir. Então você corre no banheiro e limpa os vestígios. Se olha
no espelho e enxerga aquela bagunça ambulante. Se puxarem o fio certo eu me
desmonto inteiro, tamanha a desordem que existe em mim. As paredes da minha
mente estão pichadas com nomes feios. As vozes dentro dela me atormentam à
noite.
Eu não sou de viver de passado, mas confesso que às vezes
ele me assombra. Vivo com um hóspede em minha mente que se chama ansiedade. Ela
está sempre lá. Pra me lembrar das minhas inseguranças e medos. Para me levar
ao pessimismo, ao sentimento de ser negligenciado. Ela me encara com cara feia
e me diz que não posso ser feliz. Tem gente que não nasceu pra ser feliz,
lembro de ouvir dizerem. Nasceu sob uma estrela ruim, com um destino ruim, com
uma alma ruim.
O preto na alma é uma cor como todas as outras. Só não é
enxergado assim. Sei que estou triste por que imediatamente a imagem do meu
corpo caindo em águas escuras e frias inunda minha mente. Sempre conectei a
tristeza a um oceano tão escuro e frio que não se pode chegar à superfície.
Sempre que eu sinto, eu sinto demais. Eu queria não ser assim, mas mudar meu
âmago exige uma energia que eu não tenho. Se esforce, force, até que obtenha
resultado. Somos responsáveis pelas mudanças que existem dentro de nós.
Acho que não serei um bom administrador de uma casa, de uma
família, no futuro. Mal sei me administrar. Nunca me deram curso de como ser
adulto. Nunca me ensinaram como meus pais tem todas as respostas, ou como
sobreviveram a todas as dores que um dia enfrentaram. Talvez por isso eles
sejam estoicos. Sempre foram muros, ante as mazelas da vida. Eu sempre fui
apenas uma árvore, me dobrando ante os desafios, maleando para me formatar a um
ponto em que consiga me equilibrar na vida.
Só que ela sempre foi corda bamba. E eu acabo olhando para
baixo, e vendo o quanto a queda é feia. O pé ferido de tanto tentar se
equilibrar na corda, as costas doendo da posição infeliz, mas cair seria ainda
pior. O chão chegaria rápido, a dor duraria pouco, mas a recuperação seria
impossível. Ainda assim, há beleza em viver se arriscando. Enquanto o silêncio
continua sendo minha única resposta, junto ao eco dos meus gritos por auxílio,
vou me acostumando ao som da minha voz. E como não consigo esquecer você,
talvez deva tentar esquecer de mim...
Adolfo Rodrigues