Imagem: google
   

"A senhora tem que esperar na fila como todo mundo, espere sua vez!" -disse, em alto e áspero tom sem tirar os olhos da tela do computador, a moça atrás do balcão,  em resposta à senhora que dizia querer uma informação. Completou: "Que velha chata!". Todos nós, na fila, observamos a senhora, que em nenhum momento esteve interessada a fila, sair andando com dificuldade, dizendo para si mesma " Agora vou ter que procurar outro lugar para usar o banheiro."
   Não foi nossa a culpa. Não foi o que eu fiz nem, tão pouco, o que você fez. Não foi a nossa atitude de ficar observando a cena, nem a de criticar, nem a de tentar decidir quem estava certo/errado na situação assistida. Foi, pasme, o que deixamos de fazer. Nenhuma atitude negativa, nenhum erro causador de desastre se equipara ao nada, ao deixar de fazer. Sim. Isso mesmo: quando a gente deixa de fazer, abrimos o espaço para o que não deve ser feito. Quando a gente deixa de fazer, tiramos, sempre, a chance de alguém – e esse alguém pode, inclusive, ser a pessoa que reflete no espelho.
    É isso mesmo que estou dizendo: a gotinha que você leva para tentar apagar o incêndio
tem importância. E quando você deixa de leva-la, a sua não-atitude torna-se, imediatamente, uma atitude causadora de um desastre. A sua não-atitude é uma atitude, só que inversa e com desencargo de consciência, afinal, você não fez nada, né?
   Não fez nada contra a senhora que queria saber onde ficava o banheiro, mas deixou de fazer. Não disse nenhuma palavra ofensiva àquela pessoa que todos criticam, mas nunca disse uma palavra de apoio. Não fez nada para afastar quem você ama e nem fez nada para aproximar. Nunca deu um belo soco em ninguém, mas nunca disse ao seu amigo do coração que não é legal socar as pessoas. Não faz nada que prejudique sua imagem e, muito menos, algo que a melhore. Não está abaixo da média mas, também, não faz a mínima questão de estar acima dela. Não tomou nenhuma decisão, influente o suficiente, para que o país afundasse, mas não quis se responsabilizar por dar a ideia de seguir por outro caminho, continuou remando para onde todos estavam indo: deixou de fazer.
    Resumindo: você tem um papel aqui, gracinha, não é só um enfeite de natal no mundo. Pode, sim, deixar o mundo mais bonito mas, diferentemente, de um enfeite de natal, você tem que se mexer. E tem que se mexer mais que enfeites de mesa que balançam a cabecinha para cima e para baixo. A gente pode, sim, deixar o mundo mais bonito se formos mais, se formos além, se ultrapassarmos essa premissa preguiçosa de desesperança. Se quebrarmos essa linha de pensamento pessimista que alguém construiu e a gente segue sem pestanejar. Ih, alguém já disse isso antes de mim, né? Eu sei. E foi por concordar que resolvi fazer. Não quis deixar de. Não quis ficar aqui, com meus braços cruzados, comendo pipoca e observando a conformidade e a desistência generalizada de não ajudar a senhora perdida a encontrar o banheiro. Não.
   Deixar de fazer é anular-se, é acovarda-se. É mais fácil seguir a linha pessimista de quem diz que tudo está perdido e que ninguém vale um centavo furado. Só que, just to let you know, as grandes conquistas- inclusive a que me permite estar aqui falando todas essas abobrinhas- não chegaram até nós pelo caminho mais fácil e, muito menos, pelo deixar de fazer.
   Quanta coisa, né? Pois então, agora é com você: se vai transformar esse tanto de coisa em uma coisa e tanto ou vai, novamente, reclamar e deixar tudo no canto. Mas se você decidir se mexer, transformar, remover, é com você, tá? Não fui eu.


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