Para fugir do óbvio, resolvi
falar de nós.
De todos os barulhos que
existem dentro de mim, o seu é o único capaz de ensurdecer-me, de me fazer
ouvir, de organizar toda a confusão, de me bagunçar, de me trazer paz,
acalentar minha alma, me confundir, tumultuar minha mente, colocar feição em
meu rosto, e me fazer saber como e quando continuar ou parar. Trazendo o pior
(e melhor) misto de sentimentos que posso e que já pude sentir.
Involuntária, própria e
única. Ótimas definições para nossa relação. Sem medir as conseqüências, e nem
os esforços, te uso e te usei todos os dias, desde que descobri e que
experimentei a sua existência. Por todos os lugares que passo você está, vocês
estão. Na rua, na esquina, na padaria, na televisão, no último livro que
comprei e no primeiro também, mas, principalmente, nos meus pensamentos.
Parecem não lutar pelo lugar aonde chegam. Simplesmente estão e, quando
percebo, já as usei de todas as maneiras possíveis e involuntariamente
abusivas.
Teu alimento diário? Minha
mente. Quase a destrói. Procuro a paz e que de uma forma louca e contraditória,
só encontro em vocês, palavras. Não vejo problema em dividi-las com ninguém,
até porque amo suas formas e quero que possam descobrir assim, como usá-las
também. Dominar-te, impossível. Mas tu, ao contrário, usas-me, controlas-me,
dominas-me e eu não posso me livrar disso. Não pediram permissão, mas, em meus
pensamentos, habitaram.
Uma das minhas primeiras
formas de expressão. Desde o ventre de minha mãe, não sabia o que eram, mas
sentia que existiam. Logo, os primeiros fonemas começaram a brotar, e quanto
mais eu cresço mais as palavras florescem. Ainda não conheci todas elas, mas
pelas poucas que sei, reconheço que me sustentam, me movem, me modificam, me
enlouquecem, me completam, me desfazem, me refazem e, quando menos esperamos,
também se vão.
Julyana Alves