"Antes eu do que a dor que é amar você..."

Futilidades diárias

Naquele banco eu jurava que estava sozinha.
Mas tinha quatro pessoas sentadas ali.
Três brincando de ser meus amigos do meu lado.
E outro fingindo ser meu namorado.
Era um banco de madeira numa noite qualquer.
Quanto tempo requer para se tornar invisível?
Acho isso inadmissível.
Fingir ser meu amigo, e depois me tornar intangível.
Tapar os ouvidos para o que eu falo,
Escutar somente o colega do lado.
Mas veja bem, até ver os gatos órfãos caminhar,
Era melhor que aquele tanto de gente a falar.
Assuntos fúteis não me interessam mais.
O tempo perdido nunca volta atrás.
Gente vazia não me satisfaz.

Um brinde à vida

De pedacinho em pedacinho,
Como chuva em um moinho.
Como um ninho e um passarinho.
Como o mar e um barquinho.
Como as roupas do vizinho.
Como um homem e seu vinho.
Como andar devagarinho.
Como viver sozinho.
Acabando a rima, o hábito fica.
Nada disso morre se eu morrer.
Meus vestidos vão vender.
Lembranças desaparecer.
Poderão me esquecer.
Mas tudo continua a acontecer.
Sempre terá alguém para fazer,
O que um dia eu não fiz.
E alguma criança com um giz.
Desenhando um chafariz.
Ou pintando um nariz.
Infância feliz.
Ou uma adolescente infeliz.
Bancando a atriz.
Num papel de meretriz.
Assim ela diz.
Ou alguém fixando sua raiz.
Querendo ser aprendiz.
Mas ainda passando verniz.
O nome dela é Beatriz.                        

Eterna dor

Aquela dor que dói só de lembrar.
Aquela dor que se vê no olhar.
Aquela dor que me faz chorar.
Aquela dor de se ausentar.
Aquela dor de resmungar.
Aquela dor de praguejar.
Aquela dor que causa saudade,
Independente da idade.
Aquela dor.
Aquela que vem abraçada com a morte nos funerais,
Que causa espanto aos demais.
Que trás abraços de falsidade,  disfarçados de caridade.
Aquela dor.
Aquela de chorar sentado,
Olhando para o telhado,
Com a bíblia ao lado,
Ajoelhando no chão, uma oração.
Que situação.
Ela sempre virá sorrateiramente,
Enganando muita gente,
Que verdadeiramente,
Acredita ser imortal.
Que coisa banal.
Aquela dor.
Disfarçada de um parente distante.
Que futrica sua estante.
Que acha sua vida entediante,
Que vai embora num rompante.
Depois de comer toda sua comida,
beber toda sua bebida,
E depois de uma dormida.
A grande acolhida.
Nada a declarar.
Tudo que contei um dia já me fez chorar.

A. Oliveira(Anônimo)

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