imagem: weheartit.com

Não foi você que me trouxe, eu já estava aqui. Eu estava aqui antes de você chegar. Na verdade, tenho estado aqui há um tempo. Foram várias escolhas, vários tropeços e até alguns acertos que me trouxeram aqui. Não tem muito a ver com você. Acho que não tem nada a ver com você, pode acreditar. E, justamente por não ter sido você o causador do caos, não acho justo você, por isso, pagar. Parece loucura, então, vou explicar.
Eu vou continuar aqui, não sei quanto tempo essa estagnação vai durar e eu não posso te pedir para ficar. Esse sorriso tímido que você provoca em mim, e que tanto te encanta, ele não vai evoluir. Eu sei que parece que vai, né? Mas não vai. Não agora. Eu sei disso porque eu também já criei essa fantasia, afinal, eu me vejo todos os dias. Em alguns desses dias, ao olhar meu reflexo no espelho, achei que esse mau tempo passaria e que eu, como o Sol, sorriria. Mas não passou, meu bem. As nuvens ainda estão por aqui e eu ainda estou nublada. Também sei que, vez ou outra, parece que meu sorriso vai finalmente eclodir e vai ser o raio de Sol que era antes. Ah é, você ainda nem sabe: meu sorriso costumava ser um raio de Sol. Mas isso foi antes. Meu sorriso era um raio de Sol quando eu estava inteira.
Agora me vejo como uma daqueles aparelhos de TV dos anos 90 , que, depois de um tempo funcionando perfeitamente, começava a dar defeito. E aí não tinha choro nem vela, era esperar. Uns batiam, outros acariciavam e nada da TV voltar a funcionar: tínhamos que esperar. Passava-se por um lapso e, então, um belo dia, ela voltava a funcionar. Talvez, não funcionasse da mesma forma como funcionava antes: descobríamos, vez ou outra, uma cor nova enquanto perdia-se outra. Mas voltava. Sempre voltava. E o tempo é que se encarregava de consertar. Mão humana, por mais amorosa que seja, não tem poder de reparo imediato. Estou em um lapso agora mesmo. É claro, já estive mais longe de voltar mas, admito, não é agora que vou voltar a funcionar. 
imagem: google

O que acontece é que, nesse tal antes, eu apostei alto e perdi. Sim, eu me reergui, mas ainda não posso sair daqui. E você, que agora já me julga interessante, acredite se quiser, mas eu costumava ser descomedidamente viva: ria muito, falava mais, especulava menos e enfrentava mais. Enfrentava o mundo, enfrentei o mundo. Mas agora, nesse exato momento, não  posso fazê-lo porque estou enfrentando a mim mesma. Uma batalha calma e silenciosa que tem me ensinado a dar um passo de cada vez e, ocasionalmente, recuar. Uma batalha que tem me mostrado o caminho para me conhecer e reconhecer, nesses pequenos sorrisos, a tempestade de alegria que eu costumava ser - e serei. Sei que serei, novamente, o raio de Sol, a TV em cores que costumava ser, aliás, serei ainda mais colorida. Sei que voltarei a cogitar, imaginar, construir e funcionar. Sei - e sinto - que meu coração vai ser ainda mais impulsivo e impetuoso. Sei de tudo isso porque eu, agora, me conheço. E, por me conhecer, sei que algum tempo vai levar e eu não te peço - e nem aconselho -  a esperar. 


Com amor, 
Ane Karoline

2 Comentários

  1. Belo texto Ane!
    As reformas internas fazem parte de um novo ciclo.
    Abraço,
    http://www.fabulonica.com/

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    1. Obrigada! É verdade, além disso, são necessárias, né?
      Volte sempre!

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