Imagem: Ane Karoline


Em 2018, a livraria Saraiva realizou uma promoção, 50% de desconto em livros literários, em detrimento do Dia Internacional da Mulher. Eu comprei alguns livros e, dentre eles, um livro pelo qual eu já tinha interesse há um tempo, mas achava muito caro; Mulheres que correm com os Lobos, da Clarissa Pinkola.  A primeira pessoa interessada pelo livro foi a minha irmã e, por isso, acabei adiando a leitura. Sempre que pegava o livro, desistia de lê-lo. Até que aconteceu, dia 05 de outubro deste ano eu decidi lê-lo. Por que, afinal, julguei importante dizer tudo isso antes de começar a falar do livro propriamente? Porque a minha relação com a literatura é cíclica e sazonal - depende de como estou me sentindo, a fase pela qual estou passando... Enfim, o livro da Clarissa é exatamente sobre isso: ciclos, vida, morte e autoconhecimento.

Depois da minha entrada na vida adulta e, sobretudo, depois do ingresso e conclusão da faculdade, minha opinião acerca de produções literárias está bem mais aguçada, assim como meus gostos mais definidos. Assim, digo com tranquilidade que eu jamais havia lido um livro tão denso. Eu jamais havia lido algo que me forçasse a pausa, que me fizesse ter que fechar o livro para pensar sobre ele antes de ter condições de continuar - algumas vezes, por minutos; algumas vezes, por dias. Eu jamais havia lido qualquer coisa parecida. 

Pois bem, afinal, que livro é esse, então? É mais difícil explicar que sentir, mas ouso tentar.  Mulheres que correm com os lobos, por ter sido escrito por uma psicanalista junguiana, tem um alto teor técnico. Pinkola traz análises profundas a repeito da psiqué feminina, perpassando conceitos chaves da psicanálise. Em suas quase 600 páginas, a autora discorre acerca da vida prática da mulher moderna e como os estilos de vida do século XXI têm, consequentemente, distanciado as mulheres de sua potência feminina natural - que, aqui, nada tem a ver com o que é atualmente visto como feminilidade de gênero culturalmente imposta.  A potência feminina natural, nomeada de Mulher Selvagem, descrita por Pinkola é, sobretudo, relacionada ao autoconhecimento, à conexão com o eu interno - anterior a qualquer conexão e/ou interferência externa. 
Trecho da obra. Imagem: Ane Karoline

A mérito de exemplificação e didática, a autora faz uso de histórias/contos/ditos/lendas populares ao longo de todo livro, partindo sempre da prerrogativa de busca da conexão com o eu interior. Ela lista sinais (sejam comportamentais ou psicológicos) do que seria uma desconexão com o eu interior, com a intuição, com a mulher selvagem. Dentre tantos, um dos que mais me chamou atenção foi relacionado aos sonhos. Eu, que sempre tive pesadelos severos (a ponto de não conseguir dormir por mais de uma noite seguida) e nunca consegui encontrar um padrão e/ou solução para o problema, me vejo estampada em um capítulo inteiro do livro (capítulo 2): a mulher que tem pesadelos perturbadores. Me assustou e me tranquilizou na mesma proporção ler sobre esse fenômeno de uma perspectiva feminina e da psicanálise - é doloroso finalmente aceitar que há algo me incomodando em minha vida e que preciso resolver e, ao mesmo tempo, é reconfortante saber que não sou a única. 

Trecho da obra . Imagem: Ane Karoline

Pelo que posso dizer, o exemplo sobre os sonhos é apenas uma das muitas situações terapêuticas e reais encontradas no livro. A narrativa é um chamado ao despertar, é um chamado feminino à união - consigo mesma e com as outras mulheres; as mulheres que vieram antes, as que vivem agora e as que ainda virão. É um livro de leitura essencial a qualquer mulher adulta, sobretudo em uma sociedade, ainda, patriarcal e que, por anos, tem explorado, de forma midiática estrutural e econômica, a falácia  de que as mulheres são inimigas/rivais.
Trecho da obra. Imagem: Ane Karoline
A todas as mulheres que agora me leem - sobretudo àquelas que, durante esses dois meses, me perguntaram sobre a leitura, fizeram comentários, me chamaram em um canto, me contaram suas próprias histórias: eu sempre soube, mas agora estou certa, que, ao ler esse livro, nós sabemos exatamente sobre o que cada palavra diz. Cada história de cada mulher já existente existe em nós. Juntas, somos uma matilha imbatível. Isso serve para a humanidade inteira. 

com amor, 
Ane Karoline

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