Fonte: Tumblr

Sugerido por Renan Prais

                Se tem uma palavra que definiria o ano de 2019, essa palavra, com toda a certeza, seria Resiliência. Digamos que, nesse conturbado ano, que encontrará seu fim em apenas alguns dias, tive que, uma vez atrás da outra, encontrar forças para tirar das (inúmeras) situações ruins, algo de bom. De novo e de novo, precisei me adaptar aos difíceis acontecimentos que esse ano me trouxe.
                Resiliência, por definição física, é a capacidade que alguns corpos possuem de voltar à sua forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica. Refletindo a respeito, penso que temos um coração elástico. Desde muito pequenos, somos expostos a todo o tipo de situação e sentimentos e, são eles, que formam o nosso caráter. Adaptar-se, contudo, requer muito esforço.
                Particularmente, acredito que nosso coração não volta à forma original, mas se adequa a um novo formato, depois de cada grande obstáculo que vencemos. São essas mudanças, causadas pelas adversidades, que nos permitem moldar o nosso ser, para quem gostaríamos de ser. Ora, a resiliência é uma propriedade que serve, principalmente, para aprendizado, é importante que tentemos, de forma ativa, agregar algo novo com cada pequeno acontecimento que nos incorre.
                A amizade que cai por terra, quando duas, ou mais, pessoas, simplesmente se retiram das vidas umas das outras, sem a menor satisfação. Ou ainda a amizade que termina em uma grande confusão, onde palavras ruins são trocadas, e outras pessoas são afetadas, por pessoas que não mais se encaixam uma na outra. Aprende-se, então, que nossas vidas e relações são processos cíclicos, que iniciam, e terminam, e nada podemos fazer a respeito. É como aprendemos na escola, quando crianças. O ser humano nasce, cresce, se reproduz e morre.
                Assim também são as relações entre os humanos. Por vezes, a amizade nasce e cresce, mas ali termina, sem se reproduzir. O essencial é compreender que, tudo está fadado a terminar, e nada podemos fazer a respeito. Em relação a isso, cabe também a resiliência de aprender que, tudo encontrará um fim, deixando para trás uma saudade dolorosa, um vazio massacrante e olhos molhados. O luto é um sentimento poderoso, difícil de enfrentar.
                Apenas com o uso ativo da resiliência, pode-se entender que, em seu tempo, o fim nos alcançará, e a tudo e todos ao nosso redor. Ser resiliente é aceitar e procurar lembrar-se do que de bom nos foi deixado, por aqueles que partiram. Pensando de forma cíclica, eles encerraram seu tempo conosco e, iniciam um novo ciclo, que começaremos também, quando for nossa vez.
                Mas a morte não é a única forma de final que nos machuca tanto. O amor romântico entre duas pessoas, se instala, cresce, evolui e em algumas ocasiões dura uma vida inteira. Com o avanço da modernidade, as mudanças de valores, de pensamento e ideologias, menos e menos relacionamentos alcançam esse patamar. Todos conhecemos alguém que namorou três vezes em um ano ou que teve inumeros parceiros em um curto período de tempo.
                Nesse aspecto, o aprendizado a ser buscado vem de dentro, e não de fora. Afinal, aprendemos mais sobre nós mesmos, dia após dia. Jamais sabemos como reagiremos a uma situação, até finalmente passarmos por ela. Experiência e maturidade vem quando experienciamos algo em primeira pessoa. Logo, não podemos clamar experiência por algo que outra pessoa passou. Podemos, sim, exercitar nossa empatia e aprender algo com uma situação vivida por outrem. Contudo, incorrer que absorvemos tudo daquela situação ou, que agiriamos de uma forma ou de outra, não pode ser confirmado, a não ser por experiência em primeira pessoa.  
                Como seres complexos que somos, em constante mudança e adaptação, somos, para nós mesmos, um mistério que se renova diariamente. A pessoa que desferiu um tapa há 1 mês, não mais representa quem somos hoje. Ou seja, a vida é um constante processo de auto compreensão. Compreensão esta que vem do exercício diário de aprender com os erros e acertos, de interpretar a nós mesmos, de conhecer mais e mais do que somos capazes. Do quão resilientes, podemos ser.
                Levar nossa resiliência ao limite, nos impedindo de forma ativa de reclamar do que não temos, e não reconhecer o que já conquistamos é um exercício a ser praticado diariamente. Observar nossas crises e provações sob uma nova ótica, em busca de aprendizado, não acontece naturalmente, nem do dia para a noite. Aprender requer esforço, dedicação e repetição. Ser resiliente é encontrar forças para entender que, se podemos resolver um problema, devemos faze-lo. Mas, caso não haja o que fazer, não vale a pena sofrer por algo que está fora de nosso controle.
                Ser resiliente é erguer a cabeça em meio à tempestade. É sorrir, apenas por ser um ato de rebeldia contra os obstáculos da vida. É brilhar, quando a escuridão do mundo parece te sufocar. Ser resiliente é sentir tristeza, chorar, sofrer e sentir dor, mas se reerguer ainda mais forte, quando tiver forças para faze-lo. Ser resiliente é não se permitir ficar em lugares que não te cabem, é não aceitar menos do que se merece, é amar primeiro a si.
                Encarando a vida como um eterno aprendiz, ganhando um pouquinho com cada passo que damos em direção ao futuro. Às vezes professor, sempre aluno.


-Adolfo Rodrigues

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