Fonte: Tumblr
Sugerido por Adrielly Martins
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Não
é possível, ou inteligente, falar de saudade, sem antes tentar compreender o
que ela é. A saudade, como a compreendemos no idioma português, falado no
Brasil, traz consigo o sentido de nostalgia, lembrança e vontade de ter o que
outrora lhe pertenceu. A raiz da saudade está no afeto, no apego e no amor que
dedicamos a algo, ou alguém. Como diria Antoine de Saint-Exupéry, em seu
clássico “O pequeno príncipe”, cativar é criar laços, criar a necessidade de
algo, ou alguém.
É
justamente nesta raíz que se encontra a semente da saudade. Ora, viver é
mudança constante, e mudança requer adaptação. Quando vivemos por muito tempo
da mesma forma, ou repetimos os mesmos hábitos durante muito tempo, criamos um
pequeno ciclo. Acontece que, em nossa jornada pela vida, nada permanece o mesmo
por muito tempo e, quando chega a hora de mudar, sentimos esse aperto no
coração, esse medo que é a mudança.
Esse
sentimento ainda não é a saudade. Ele é a resistência à mudança, ou ao novo.
Muitas vezes, lembramos de situações, ou coisas que nos aconteceram no passado,
épocas melhores, em que éramos mais felizes ou mais tranquilos, e sentimos a
nostalgia no peito. Aquela lembrança, ao mesmo tempo triste e alegre, de algo
que passou. Contudo, é importante notar que, temos o costume de super valorizar
acontecimentos do passado.
Dizemos
coisas como “Meu ensino fundamental foi perfeito, a escola era incrível e a
professora a melhor”. Quando criamos esse senso de perfeição, criamos também
uma ilusão. Vejamos como exemplo a situação de um desenho animado, que
adorávamos quando crianças. Era o melhor desenho do mundo, e podíamos passar
horas assistindo aos mesmos episódios, de novo e de novo. Agora, como adultos,
quando temos uma chance de reassistir aquele desenho, não sentimos mais o mesmo
prazer de antes. Isso acontece, não por que o desenho não era bom, mas por quê
nós mudamos, e não mais enxergamos a diversão de outrora.
Mas
então, o que seria a saudade?
A
saudade é um sentimento agridoce. Ele aperta o peito, transborda os olhos, mas
ao mesmo tempo aquece o coração. Sentir saudade significa ter cativado, ou ter
sido cativado. Ter vivido algo único e especial, compartilhado um pedaço da sua
vida com alguém. A saudade vem nos lembrar que, a hora de viver é agora e, que
quando espalhamos o amor, ele cria raízes. A saudade vem nos dizer que dói a
perda, a nostalgia e a memória, mas, ao mesmo tempo, que fomos felizes o
bastante para viver aquilo de que hoje sentimos falta.
A
saudade de quem está longe, ainda pode ser resolvida. Basta não esperar, até
que não seja possível resolve-la. A saudade de quem já se foi, a que chamamos
de perda, neste contexto, vem para nos lembrar que fomos sortudos o suficiente,
para conviver no mesmo tempo, no mesmo lugar, com aqueles que ja perdemos. Ela
vem nos lembrar do quão maravilhosa é a dadiva de guardar memórias daqueles que
perdemos, e não para nos lembrar da tristeza de não os termos mais aqui. A
saudade, traz consigo a opressão de não mais podermos tomar aquelas pessoas em
nosso abraço, ou de não poder mais ouvir a voz daquela pessoa amada. No
entanto, essa não é sua função.
A
saudade serve para relembrar, para expressar sentimentos e, acima de tudo, para
nos assegurar de que amamos alguém o bastante, para que suas memórias criem
raízes em nosso íntimo. A saudade é a mais bela homenagem a quem já partiu,
dada a nós pela natureza em si, como presente, para que possamos ter a quem
amamos, sempre dentro de nós. Quem carrega no coração o amor de alguém que já
se foi, anda com um tesouro no peito, sempre pronto para ser aberto e
enriquecer nosso dia.
Não
encaremos a saudade como um sentimento ruim, pois, essa não é sua função.
Permita-se recebe-la de braços abertos. Procure lembrar-se mais dos bons
momentos do que dos momentos ruins. Abra o baú de memórias e se permita tomar
por tudo aquilo gravado em seu peito. Expresse, pelo choro, ou qualquer outro
meio, como aquilo lhe faz sentir. E lembre-se, sentir saudade é confirmar dia
após dia a importância do que se viveu. É certificado de que se está vivendo, marcando
as pessoas e sendo marcado por elas. Dando propósito à nossa existência
passageira neste plano. Sentir saudade, é viver.
-Adolfo Rodrigues