Um livro por ler sobre a mesa, um livro por escrever na cabeça. As malas já desfeitas ali no canto. Todas as luzes de alerta acesas em minha cabeça tentando me avisar alguma coisa, tentando me dizer algo que eu não quero saber, algo que quero fingir que não sei. Logo agora, quando eu achei que iria ficar, quando eu achei que havia chegado, já parece hora de zarpar. Esses sinais de alerta gritando como se eu fosse incapaz de ouvir, gritando até me ensurdecer, parecem estar entrando em curto circuito, sinais vitais em pane.

De novo não.
Eu já andei tanto,
eu já tentei tanto,
eu já caí tanto,
e, ainda,
não cheguei em canto
algum.

O livro aberto na mesma página parece querer me dizer que não é justo com você, se eu não sei o que há, como você haverá de saber? Mesmo você - quem detém todas as minhas palavras, todas as minhas vírgulas, todos os meus pensamentos- não parece ser capaz de ver. Minhas pernas estão cansadas de andar, de correr, de maratonar sem jamais chegar. Eu até queria ficar, todos os meus passos me trouxeram exatamente até aqui, mas não tenho mais fôlego, não tenho mais idade, não tenho mais tempo para esperar. Cada minuto a mais é um minuto a menos. 

As malas desfeitas, quietinhas, empoeiradas, me encaram do canto do quarto como se me perguntassem: 
Qual é a sensação de sempre esperar? 
Qual é a sensação de não se expressar? 
Qual é a sensação de não ter quem sobre ideias queira falar? 
Não seria melhor peregrinar? 

Escrevo o bilhete, fecho o livro e calço os sapatos. Não vai dar para ficar, pode ficar à vontade para me acompanhar. 


Ane Karoline

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