imagem: google

Eu tenho medo. Além de tê-lo, o tempo todo, estou com ele agora mesmo. É que ele me acompanha. É ele que me puxa de volta, quando estou indo. É ele que acende uma luz vermelha em minha cabeça. É ele que grita "melhor não arriscar". Ele grita, não sussurra. Eu poderia estar com você agora, mas estou com o medo.
Soa patético, alucinado e ridículo e é tudo que eu sempre critico: ter medo de arriscar. Já que já deu para perceber, então, vou confessar: sou o meu pior pesadelo, gente que não sai do lugar. Não que estagnada eu queira ficar, inclusive, corro. Corro de mim e acabo em mim. Gaguejo, tropeço, me perco e me afogo. Eu sei nadar, mas me afogo. É que nesse oceano que existe dentro de mim, pouco adianta nadar: tenho que respirar, esperar e aceitar. Sem, nunca, parar de lutar.
Posto assim, parece complicado: estar com alguém que está sempre amordaçado. Mas, se me cabe explicar, é mais um laço que mordaça. Me puxa para longe quando preciso ficar, me joga de volta quando ninguém quer me achar. Me prende, vez ou outra. Me esquece, outras tantas. Nunca me solta, sempre me acha, mas não me veta. Quero dizer, estamos sempre de mãos dadas, o medo e eu. Ele, coitado, deve ter medo de andar só - como eu. Mas a gente se respeita. Quando percebo que ele precisa de um cuidado maior, cancelo tudo e dou-lhe a devida atenção. Fico de molho em casa, ouvindo o barulho que há dentro da minha cabeça, até que ele seja suficientemente ouvido e se cale. Quando eu preciso de espaço, preciso lutar um pouquinho com o medo - ele é meio pegajoso. E eu sou corajosa, vou me soltando até estar suficientemente livre para te acompanhar, desde que não me peças para esperar.
Essa é uma mania que herdei do medo: quando estou liberta, tenho a ânsia de realizar. Agora. Pra já. Quero agir, ir, progredir, construir, reconstruir, compor, amar e escribir. Um furacão. Mas não há o que temer: intensidade não é algo que vá ferir você, provavelmente, vai te proteger. É só uma pequena pressa que vai, sempre, te tirar do lugar, te instabilizar e, quem sabe, te emocionar.
Eu tenho medo. E, vez ou outra, é ele que me tem. Esse grude todo, com frequência me aborrece e sei que pode também te aborrecer. Mas, cá entre nós, também existem vários detalhezinhos em você. Ou seja, pelas minhas contas, pode dar certinho e a gente pode se acertar - mesmo quando eu estiver mais para lá que para cá. Quando for assim, vou te pedir para apaziguar e, se conseguir me achar, me abraça. Caso eu, momentaneamente, suma, me ame e me abrace quando eu voltar. Eu tenho medo mas quando ele vai passear, eu me empenho em amar. 

Ane Karoline

2 Comentários

  1. Esse texto simplesmente descreveu tudo o que sinto! Parabéns, com certeza compraria um livro seu! ❣

    Primaveraagridoce.Blogspot.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que coisa maravilhosa de ser lida! Obrigada, Bruna! Em breve teremos um livro publicado! Volte sempre!

      Excluir

O tempo é maior presente que podemos dar à alguém: obrigada pelo seu. As palavras são afeto derretido, que tal deixar as suas? (Caso tenha um site, para que possamos presenteá-lo com nosso tempo,divulgue-o aqui). Forte Abraço.