Quase sempre existe um vazio intransponível entre nós. No começo achei que fosse uma parede. Mas paredes e muros a gente pode destruir, certo? Que batalha! Tentei destruir o tal muro entre nós com tanto afinco, investi minha energia, minha bravura e meu alento: persistiu o tormento. Não que o muro entre nós fosse difícil de ser destruído porque, afinal, força você sabe que eu tenho. Não existia muro nenhum, não existia parede alguma. E como eu queria que fosse uma parede! Assim, ao menos,  não veria você do outro lado. Mas vi e sigo vendo.
É exatamente aí que vejo você: do outro lado. Quase sempre com um vazio intransponível entre nós. Cheguei a achar que fosse um mar. Que romântico. Cada um em uma ilha, com o mar entre nós. Mas, não sei se eu comentei, eu sei nadar. E, sim, me dispus a nadar um mar inteiro para atravessar esse vazio intransponível que existe entre nós. E nadaria, se houvesse alguma água. Não havia. Quando mergulhei, só encontrei aridez. A partir daí, então, consegui ver com um pouquinho mais de nitidez.
Coloquei em minha cabeça de uma vez: vazio é vazio. Lacuna. Vácuo. Vão. Falta. Uma fresta que cresce alimentada pelas faltas que vão apagando tudo que poderia ser, transformando possibilidades em inexistências Transformando coragem em desistências. Transformando vírgulas em reticências. Pendências existem porque, afinal, é um vazio. Um vazio quase intransponível. Que não consigo transpô-lo sozinha, é uma verdade inegável. Que precisamos transpô-lo, é uma ação improrrogável. É um vazio inavegável porque não deve existir. Não entre, no meio, causando separação. Requer ação. Mobilização. Construção. O mundo, esse em que estamos, esse mesmo já foi um grande vazio. Não é mais. Podia continuar sendo um vazio, se ninguém tivesse feito nada. O mundo já foi - muito mais que agora- cheio de vazios até que, certo dia, também, alguém criou as pontes. Para a criação das pontes foram necessários três elementos: dois lados, um vazio e a vontade de transpô-lo, atravessá-lo. Criaram a ponte. Vê?
Se usarmos a mesma fórmula da criação da ponte que deu certo para calcular porque a nossa ponte não existe, vamos perceber que temos os dois lados, o vazio e metade da vontade de transpô-lo. Criei algo por aqui também mas foi uma tese para te fazer ver que existe um vazio quase intransponível entre eu e você. Um vazio quase intransponível é algo que dá para vencer se for preenchido, habitado e, quando estiver no meio, atravessado.
Quase sempre existe um vazio intransponível entre nós. Quase sempre porque quando você se dispõe a andar, tem tanta força quanto eu. Quase sempre porque quando resolve minha mão segurar não tem nada que te impeça de chegar. Quase sempre existe um vazio intransponível entre nós porque vez ou outra te vejo do lado de cá. Mas, sendo essa presença quase um lapso, sempre espaçada, nunca firmada, continuo a te ver do lado de lá. Cada vez mais lá, a se distanciar. Continuando assim, sei que um dia o horizonte te apaga mas, hoje ainda te vi. Sigo vendo. 

2 Comentários

  1. Sigo vendo, sigo lendo, adorei este texto, vi elementos que de forma indireta foram citados pelas entrelinhas do texto. um deles, a esperança, de que tudo pode mudar se a formula da ponte funcionar, a esperança de que iremos utilizar esta formula como a solução do problema, mas a solução esta alem, muito alem, depois do vazio dentro de cada um, no lugar mais distante. No coração.

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