A vida é muito frágil, fragilíssima, quase efêmera. A vida é um piscar, é um sorriso, um olhar. A vida é uma borboletinha amarela que voa, voa, voa e, de repente, não voa mais. E a gente quase não percebe. A gente não percebe que um montão daquelas borboletinhas amarelas param de voar todos os dias. É que parece que existem outras borboletinhas amarelas, né? Mas eis aqui a verdade: não existem. Parou de voar e acabou. Acabou para nós aqui, do lado de cá "carne e osso" do universo. Acabou, e acaba todos os dias, para nós que ansiamos tanto guardar a vida em potinhos, em fotos, em caixas, em carros e em fórmulas deixando-a, assim, escapar.
E quando, felizmente, não a deixamos escapar, quando decidimos cuidar, queremos guardar, proteger, salvar, acolher, cobrir, escoltar, socorrer, defender, tutorar, amparar, apadroar... Mas borboleta dentro de caixa não dá para ficar. Não dá para deixar a vida lá, guardadinha, a gente olha, dá um beijinho de manhã e pronto, fica olhando do canto: tem que soltar, deixar ser, let it be
A gente admira a vida - que é digna de admiração mesmo- mas é para ser vivida, não olhada de longe. O agora é tudo que temos. Não se sabe de nada, hoje tem Sol e amanhã quem sabe? Quem vai afirmar alguma coisa? Eu não ouso. Ontem mesmo afirmei que a borboletinha amarela que visitava minha janela iria voltar no dia seguinte e nem a olhei. Hoje não sei dela. Achei que a vida ia esperar por mim, não esperou.
É fato que nenhuma borboleta amarela vai voar para sempre e eu mesma não estarei aqui para sempre para vê-las voar. Vou sentir falta delas e alguns outros vão sentir minha falta. Então, o voto de hoje é para que possamos viver as borboletas enquanto estão aqui, voando ao nosso redor. Sem prender a vida e sem observá-la de longe. Honrar a presença enquanto a borboleta quiser e puder voar perto de nós, depois podemos agradecer por termos tido a chance de conhecer algo tão belo, de sentir a vida e de vivê-la enquanto foi possível, afinal, nenhuma borboleta voa para sempre. 
In Memorian de Wellica Costa que tanto trouxe alegria, vida, sorrisos e beleza a esse lado de cá do Universo. 

2 Comentários

  1. Adorei o texto! Você escreve muito bem.
    A vida é assim, tão frágil quanto uma borboleta, nós vamos perdendo ela aos poucos, enlouquecemos aos poucos e não adianta se prender para preservar. O melhor é viver até acabar!
    Beijão

    primaveraagridoce.blogspot.com

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    1. Obrigada pelo carinho e pela visita, Bruna! Volte sempre. Seu blog é uma graça.
      Abraço,
      Ane

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