Certa vez eu conheci uma senhora muito simpática com cheiro de café e aparência de Dona Benta do Sítio do Pica-pau amarelo. Ela tinha aquela facilidade para conversar que gente simpática tem e resolveu compartilhá-la comigo. A história é a seguinte: quando adolescente, em um dia triste, ela resolveu fazer um trajeto diferente na ida para casa. No tal trajeto, encontrou um pássaro machucado e resolveu ajudá-lo: cortou a mão e teve de ir ao hospital. Resultado? Dois pontinhos e um amor para a vida toda: ela conheceu o marido, com quem está casada há 45 anos, no hospital. Tá, e daí? E daí que ela poderia estar solteira, na praia, sem filhos, separada, no terceiro casamento ou trabalhando na tv. Mas ela escolheu ir por outro caminho e ajudar o pássaro: as pequenas escolhas são as que nos movem e a gente nem percebe.
   É que cada passinho que a gente dá, muda totalmente o rumo da nossa vida; muda nossa história. Aquele dia que você resolveu não levantar da cama, pode ter te livrado de um acidente de trânsito; escolher o mesmo sabor de sorvete no domingo te impediu de, talvez, conhecer um novo sabor preferido. E aquele livro que você decidiu ler naquele exato momento e que te ensinou uma liçãozinha que você precisava? E também aconteceu aquela paixãozinha que você largou pra lá: podia ser um amor - ou O amor- mas não foi. Escolhas: escolas. 
   Tem mais um pormenor sobre as pequenas escolhas: a gente interfere em como é escrita a história do outro e, na maioria das vezes, não nos damos conta da magnitude que isso tem. O lixo que você jogou na estrada, enquanto conversava distraído, provocou um acidente fatal. Escolher o mesmo sabor de sorvete no domingo, ajudou o dono da sorveteria a entender que, talvez, ninguém estivesse mesmo a fim daquele tal sabor novo. Aquele livro que te ensinou uma lição, também foi útil àquela moça sentada ao seu lado no ônibus, que te acompanhava na leitura e você nem percebeu. E aquela menina, da mãozinha pequena e sempre fria, que você deixou pra lá aprendeu que o amor pode ser unilateral: e machucar. O candidato no qual você confia seu voto é quem escolhe investir menos ou mais na saúde e acaba por deliberar a vida ou a morte daquele estranho que sofre no leito hospital. Escolhas: enfoques. 
    Isso não tem como escolher: algum caminho a gente tem que seguir, e a gente segue. Escrevemos capítulos e capítulos nas vidas alheias diariamente e os outros escrevem, também, em nossas vidas. Não que seja necessária a construção do gráfico da função para cada escolha que aparece em nossas mãos, mas o aleatório também não é a melhor opção.


Ane Karoline

2 Comentários

  1. "Escrevemos capítulos e capítulos nas vidas alheias diariamente e os outros escrevem, também, em nossas vidas. Não que seja necessária a construção do gráfico da função para cada escolha que aparece em nossas mãos, mas o aleatório também não é a melhor opção."

    Adorei! É horrível quanta pressão a gente passa diariamente para fazer escolhas. Tenho 22 anos e até hoje fico confusa com as minhas escolhas e prometo que vou fazer outras, mas nunca consigo deixar de lado o que já tenho escolhido. Acho que tenho medo de mudar, porque escolha é, também, isso: a gente escolhe um caminho e muda - muda a nossa vida, muda nosso estilo, muda nossas preferências. Mas, se não fossem essas escolhas, nunca sairíamos do lugar, né?

    Love, Nina.
    http://ninaeuma.blogspot.com/

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    1. Concordo plenamente, Nina! Apesar da medo que muitas vezes no acomete na hora de tomar uma outra decisão - o que é oriundo das possibilidades de consequências, acredito eu - as decisões/escolhas são necessárias para que a vida siga. :)
      Abraço,
      Ane

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