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... trinta e cinco, trinta e seis, trinta e sete. Então é isso, andando em diagonal são sete passos a mais para começar o dia, sete passo a mais que em linha reta. Sete passos a mais de distância de mim. Enquanto isso, o mantra na cabeça:
we might never make it out. 
make it out... o quê mesmo? O que tanto eu quero make, ou do, que não me deixa em paz?

Recomeço: desliguei os faróis, verifiquei a marcha e o freio, desliguei o motor. Depois: trinta e sete passos, o sol ainda à vista, meu desejo sincero: bom dia, bom dia, bom dia. Quero que todos tenhamos um bom dia. Meu coração, lá no fundo, sabe que não. Não dá.  Não com dezesseis dias de fogo ininterrupto. Não com a vida morrendo e a capital dando lucro. 

Decido: vou andar em diagonal hoje. Assim, me aparece a descoberta dos sete passos a mais e da minha vontade de jamais chegar, do meu total estado de não saber o que fazer. Será que alguém sabe? Será que alguém nota? Será que alguém olha? Na cabeça:
If we don't leave this town, we might never make it out.

Make it out... O quê? Será que isso que quero tanto fazer é, afinal, por mim? Ou será que é só porque Dostoiévski escreveu Gente Pobre em um ano? Ou será que é porque todos os meus textos morrem dentro de mim quando os deixo para serem escritos no dia seguinte? Meus textos estão mortos. As palavras têm morrido dentro de mim - sem vez, sem voz, sem vida. Como é mesmo que se vive quando um monte de palavras morrem dentro de você? Dostoiévski jamais saberia, as palavras dele só sabiam nascer. Gostaria de dizer a ele: o senhor, mi lord, lidou com o quê? Será  que se tivesse lidado com um céu morto às três da tarde de uma segunda-feira teria escrito tais coisas com tal maestria? Quem vê um céu morto não tem mais vida para dar vida às palavras, não tem mais vida para dar a vida a nada. 

Ando em diagonal o dia todo:
procurando tudo, encontrando nada. 

Depois: trinta e sete passos arrastados, ligo os faróis, ligo o motor, verifico a marcha e o freio. O céu morto, quero dizer alguma coisa... Amanhã. Amanhã escrevo alguma coisa sobre isso, escrevo um texto bem bonito. Amanhã i make it out, dou à vida a algumas palavras ou, ainda, deixo-as morrer mais uma vez. 

Ane Karoline

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