Na vida, passamos por momentos de alegria e de tristeza, os quais nos causam variadas reações, mas o momento que nos cala é o do sofrimento. A dor causa reflexão e é quando percebemos – e valorizamos – as pequenas coisas.

Coisas pequenas, são crianças. Eu, quando criança, gostava de pensar no futuro, na vida adulta e na liberdade que a mesma me proporcionaria: caminhar com os próprios pés. Ainda que com sede de liberdade, nunca pensei sobre partidas. Acreditava que eu teria cada familiar, amigo e entre outros conhecidos sempre comigo. Até que um dia, pouco tempo depois do meu aniversário de dez anos, a realidade bateu em minha porta levando da minha vida uma pessoa. E depois outra. E depois outra. Como em um efeito dominó. A culpa preencheu o espaço vazio. “Se eu tivesse feito tudo direitinho, talvez tivesse acontecido diferente”.  Tolice. Queria ir contra a lei da vida: tudo é finito. Tudo é finito? Não, espera. Tem que ter alguma coisa... Depois de muito desviar de fins, percebi: tenho medo de perdas. Desenvolvi uma estratégia. Comecei a ser boa e generosa. Exageradamente. Dava o meu melhor em tudo, achando que assim as pessoas permaneceriam. Só depois de muito tempo percebi que não tinha controle e que não podia perder ninguém já que a escolha não era, e nem é, minha. 

Mesmo não podendo escolher, sigo sentindo e ouvindo especulações. Dizem, por exemplo, que a perda é dolorosa e que pior que alguém que já partiu é aquele que ainda tem vida, mas não na nossa vida. Será? Se perdemos alguém que morreu não podemos mais nos conectar com essa pessoa, pelo menos não fisicamente. Então, como é que pode isso? Como alguém que ainda respira, mas respira longe de nós, poderia estar mais ausente? Também não sei, talvez nunca saberei, mas sei que por mais abalados que fiquemos com a saída de alguém de nossa vida, se a pessoa ainda pisa no planeta Terra e inspira gás oxigênio, é nosso dever deixar as boas memórias preencherem nosso coração e desejar sempre o bem, para viver em paz.

Eu mesma, que ouso em vir aqui dizer isso, demorei um tanto para entender que não perdemos as pessoas; podemos perder sonhos, objetos, valores – e, ainda assim, tudo isso, de alguma forma, segue conosco porque faz parte de quem somos. Só que as pessoas não, elas são seres individuais que podem, sim, tornar a nossa vida mais feliz, mas não são a causa da nossa felicidade – o motivo da nossa felicidade deve ser nós mesmos.

De tudo que não entendo, acho que entendi que só podemos perder uma pessoa: nós mesmos. Passamos tanto tempo tentando fazer com que as pessoas não saiam de nossa vida, que esquecemos de cuidar de nós. Percorremos um caminho, construímos uma história, criamos e cultivamos laços que vão nos ajudar ao longo dessa estrada, mas não podemos esquecer de semear em nós coisas boas, fazendo de quem somos um jardim bem cultivado. Se isso não acontecer, podemos perder a única real causa da nossa felicidade: o nosso ser individual e singular.



Giselle Santos

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