Eu o vi hoje pela manhã, enquanto olhava distraída meu reflexo no espelho: um grande hematoma, em formato circular, me pegou de surpresa. Parei de olhar para o reflexo e olhei para mim, era real: um belo hematoma arroxeado, ainda dolorido, em meu braço direito. Enquanto o observava, me lembrei do acidente bobo que o causara e percebi que era uma marca de guerra, marca da guerra diária que é a vida. Pensando assim, por alguns instantes acreditei que aquele era o maior hematoma que eu já tivera, mas, então, me lembrei: existimos nós, eu e você. Nós fomos o maior hematoma que eu já tive. 

Como ter acreditado que conseguiria me espremer em um metrô lotado sem me machucar, me trouxe um hematoma no braço, acreditar em nós me trouxe um hematoma na alma, me tornou uma ferida ambulante. Eu acreditei em nós. Acreditei com essa minha mania de acreditar em contos de fadas e em histórias de amor de gente que se conhece no cursinho de inglês, no trânsito, ou no metrô. Realmente achei que fosse dar certo, tinha certeza de que éramos as pessoas certas ou, pelo menos, as pessoas erradas que se acertariam. Mesmo quando dava errado - e deu errado muitas vezes-  eu achava que, depois, daria certo.  Estava certa de que tudo encontraria seu devido lugar e que encaixaríamos perfeitamente as nossas imperfeições. Mesmo nos dias em que minha cabeça doía, pela noite mal dormida, eu achava que você apareceria e me acalmaria. Esperei que você viesse curar as feridas que me fez. Apostei todas minhas fichas em você e tirei meu time de campo, não via mais ninguém, só você. Deixei até de me ver por um tempo. Exagerei. Até porque você nunca me pediu nada, né? Nem para ficar. 

De tantas pancadas, de tantas palavras mal ditas, de tantas frases soltas, de tantas mentiras, de tanta frieza, muitos hematomas também ficaram e se tornaram um: um grande roxo, vazio e opaco dentro de mim. Esse foi o hematoma que você me deixou, o maior que já tive.  Hoje ele ainda está roxo, dolorido e tenho evitado tocá-lo. Mas sei que logo vai começar a perder a cor e a força,esse processo é conhecido: dói, marca, mancha, parece que não vai passar, mas passa.

Eu sei que todo mundo já teve um hematoma, o que eu não sei é se todo mundo ama.  A mim, posso garantir,  foi dado esse dom de amar que, sim, tem lá suas mazelas - como o arrebatamento-  mas que no fim das contas, todos esses hematomas, que vão ficando, fazem com que eu seja mais eu, fazem com que eu, agora, saiba que me firo, mas é, sempre, por ter dado espaço ao amor que me fere, mas me fere doce. E de amar eu nunca vou me arrepender, por mais que isso possa me ferir, essa coragem que eu tenho não é em qualquer esquina que se pode encontrar.

Com amor, 
Ane Karoline

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