"Can I be whole again?"
Será que eu consigo ser inteiro novamente?
            Deixa eu tentar explicar. Nós nascemos à mais. Quando crianças somos nós, e nossas mães. Não existe separação, elas são nós, nós somos elas. Como um só. Daí começamos a crescer, e os espaços começam a se delimitar, até o ponto em que nos tornamos completos. Sim, completos. Afinal uma criança não precisa de mais que sua família para ser feliz.
            É quando começamos a crescer. Enfim formamos amizades. E é a partir de então, que começamos a espalhar pedaços nossos pelo mundo. Começa com aquele sorriso que damos ao primeiro amiguinho, e que passa a pertencer a ele. Então temos aquele abraço que dividimos com um primo, aquele olhar que trocamos com outro alguém.
            Aos poucos, dezenas de pequenos pedaços nossos estão condensados em lembranças ao nosso redor. Nós mesmos começamos a absorver pedaços de quem convive conosco. Esse ciclo é auto suficiente, e não nos afeta, afinal damos e recebemos quase na mesma proporção. Até que enfim encontramos alguém para quem queremos dar mais do que simples pedaços de nós.
            É aquela pessoa cujo olhar trocado se torna um pedaço importante. Então você sorri de um jeito especial, tirando uma parte um pouco maior de si, para aquela pessoa. Logo vocês se envolvem e, mais e mais, você dá pedaços grandes de si. Você tira do seu tempo para dar àquela pessoa. Gasta pensamentos com ela. Planta expectativas, rega-as com a esperança, observa-as germinar.
            Você planta em si os pedaços que ela te deu. Planta em seu íntimo aquele sorriso, aquela palavra, aquela declaração. As coisas bobas começam a criar um ambiente dentro de você, e logo aquela pessoa faz parte do seu íntimo. Tudo parece perfeito, até que uma hora, isso acaba.
            Com o término, o que havia dentro de você começa a padecer. O mundo que havia dentro de nós, outrora vívido e colorido, começa a tornar-se cinzento e frio. Enfim, percebemos que pedaços demais foram doados, e que nos achamos, incompletos. Se pudéssemos enxergar isso no espelho, nos veríamos como um pedaço de queijo, cheio de buracos.
            Aqueles pedaços doados nunca mais voltarão a nos pertencer, pois são agora de outrem, e não podemos recuperá-los. Quanto a nós, percebemos que o ciclo era desigual, afinal, o outro não está tão esburacado. Ele parece mais inteiro que nos sentimos. E não há nada que possamos usar para tapar as aberturas deixadas em nós. E pode ter certeza que tentaremos completar esses espaços vazios.
            É por isso que eu me pergunto constantemente, se poderei um dia ser inteiro de novo. Já passei por esse ciclo tantas vezes, que sinto-me como um esqueleto de prédio, onde existe apenas a base, o vazio. Será que encontrarei um jeito de preencher as lacunas? O que fazer com o medo de perder ainda mais de mim, para os outros?

            As dúvidas me perseguem às vezes, mas tenho que me lembrar de viver com o que ainda resta de mim, e fazer disso, meu inteiro...


A.Rodrigues

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