imagem: weheartit.com



A liberdade é uma coisa engraçada: nos liberta de correntes, nos permite seguir, voar, caminhar. A gente vai caminhando, caminhando e, de repente, não sabe mais se está, realmente, andando para a frente ou em círculos. Essa sensação maravilhosa de "tudo eu posso" que estamos (conto com isso) conquistando a cada dia, às vezes faz com que gritemos antes de parar para ouvir, nos faz partir para o ataque antes de entender a proposta do outro. A liberdade é linda, eu posso afirmar. O único probleminha com a liberdade é que ela cruza com respeito: meu espaço acaba onde começa o espaço do outro. Eis a questão: existe lugar mais livre que a internet? Pois então, nesse mundaréu de sites sem donos e caixinhas infinitas para comentários, ninguém parece obedecer a lei mínima de convivência: não invadir o espaço de ninguém.  

Tive a audácia de vir aqui falar sobre o que as pessoas estão falando por razão muito simples: ficou impossível ler qualquer notícia/publicação sem sair devastada pelos comentários. De uns tempos para cá, ficou impossível passar ileso pela internet, sem agressões. E, veja bem, não falo aqui de críticas, não falo aqui de gente que vem expor a opinião numa boa; me refiro a ataques, pancadas, agressão. Me embrulha o estômago abrir uma matéria, em um portal jornalístico qualquer, e perceber o quanto as pessoas, e nós mesmos, perderam a noção do que pode ou não ser dito, perderam o conceito de opinião e acharam o de agressão, no lugar. 

Dia desses vi uma matéria, em algum desses portais online de notícias, sobre uma cantora de funk. Caí na besteira de ler alguns comentários e me afundei em baixaria - gente de tudo que é canto, com tudo quanto é tipo de xingamento. Tinha quem tentasse defender o direito da cantora de se vestir assim ou assado, mas quem quer que tentasse advogar, era acusado de simpatizante da esquerda, vadiagem, luxúria e terrorista contra a família tradicional brasileira. A coisa virou uma briga tremenda, de um monte de gente que não se conhece, para ver quem conseguia ser mais agressivo contras os outros, contra o jornal e contra a cantora. Um monte de gente dessas com perfis e bocas de onde só saem: mais amor, por favor - tipo eu e você. Um monte de gente que acha um horror ver a vizinha comentando a vida alheia. Um monte de gente cheia de ódio, achando que internet é terra de ninguém e que caixa de comentário é ringue de MMA: quem parar de atacar primeiro, perde. Um show de horrores que, infelizmente, não preciso explicar aqui porque sei que todo mundo já viu, afinal, virou cena cotidiana.

Longe de mim delimitar regras, lugares, direitos e deveres. Tá aí uma coisa que tanto não quero, quanto não posso: ditar limites. Mas esse é um limite que a gente tem que ter: é obrigação ter cuidado com o que se vai dizer. É maravilhoso ter voz, eu mesma, que sou escritora em mídias sociais, defendo veemente esse espaço quase democrático que é a internet: gente que nunca teve vez, agora tem mais espaço para se exercer, para gritar, para falar: ei, tô aqui. É avanço? É! Mas ainda precisa ser lapidado. Na sede de emitir, a gente esquece de ouvir e perceber que ninguém tem direito de agressão sobre o outro - nem na internet e nem fora dela.

Acho bonito a garra de ir lá e fazer, de ter audácia e,  principalmente, de ter alguma coisa para dizer. Desde que isso não seja feito através de baixaria, desrespeito, perfis falsos e palavras agressivas. Sem tortura, agressão, palavrão ou pressão psicológica. De não gostar, discordar, desacreditar a gente tem todo o direito, desde que não justifiquemos agressão com "essa é minha opinião", é bem possível opinar sem insultar. 

com amor, 
Ane Karoline. 

Deixe um comentário

O tempo é maior presente que podemos dar à alguém: obrigada pelo seu. As palavras são afeto derretido, que tal deixar as suas? (Caso tenha um site, para que possamos presenteá-lo com nosso tempo,divulgue-o aqui). Forte Abraço.