imagem: weheartit


Hoje eu não vou falar sobre nós - eu e você. Nem sobre o nó na minha garganta, e, muito menos, sobre o nó que se atou em nós dois - aquele que, de tão apertado, nos expeliu para longe um do outro. Pois, sim, sobre o que eu vou falar? Vou falar sobre mim e sobre o meu coração, mas vou te usar para isso. Eu devo ter licença poética para isso, certo?

Vou começar dizendo o óbvio: eu não te dei meu coração. Lá atrás, na nossa época, eu não fui a quase nenhum dos lugares para os quais você me convidou; não me lembrei de tirar fotografias; mal segurei sua mão. Eu, realmente, não te dei meu coração. Mas eu, desventurada, também não o tinha. Havia perdido o meu próprio coração em uma manobra errada, uma manobra feita antes de te conhecer. Perdi meu coração e me perdi, fiquei desorientada. A gente, quando não está amando (seja como for), perde a cor da vida. Lembra como eu estava cinza quando nos conhecemos?

Foi assim, perdida, que te encontrei. Vi primeiro o sorriso. O sorriso que você me deu era tão quente quanto aquela tarde de domingo. Quando te vi, senti meu coração - ainda que trôpego, vacilante e tímido - voltar a reagir: uns pulos aqui, uma taquicardia ali. Você também me viu. Na verdade, você me reconheceu, sua ansiedade em se aproximar me mostrou que era isso: a palpitação que eu senti, você também sentiu. Era a mim que você, despreocupadamente, estava esperando. Eu caberia certinho na sua vida, né? Sei disso. Mas, como prometi, não vim falar sobre isso.Vim falar que o espaço que tinha na sua vida, reservado para mim, não contava com o fato de que eu estava pela metade.

Eu era só um monte de fragmentos quando conheci você. Um amontoado de estilhaços, ainda sangrando, ainda ariscos, ainda despedaçados. Por isso não encaixava, você era inteiro. Tentei e, a cada tentativa, era como tentar encaixar uma peça errada em um quebra-cabeças, era como tentar colocar o lego de triângulo dentro do espaço reservado para o círculo: não encaixava e me machucava. Também te vi tentar e, consequentemente, falhar. É que se reconstruir é uma coisa que a gente faz só.

A sorte é que o tempo passa e, na passagem, cura. Hoje, meu coração está aqui de novo: livre, leve, solto. Voltou à sua função normal - que vai muito além de só bombear sangue para o meu corpo. Hoje, agora, nesse exato momento, meu coração estaria pronto para te ser entregue. Mas o amor, que é caprichoso, não funciona bem assim e tem me mostrado o erro que cometi lá atrás - o tropeço que me estilhaçou - e que, também, estava tentando cometer com você: coração não é para ser entregue.  Nem o meu, nem o seu, nem o de ninguém. O amor, sim, esse a gente dá sem medo. Mas o coração tem que ficar, para gerar amor para mim também. Foi por isso que eu não te entreguei meu coração.

com amor, 
Ane Karoline

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