Sim, hoje é o grande dia. O
dia tão esperado. O dia com o qual toda mulher sonha. Sim, estou caminhando sobre um
tapete vermelho ao som da Ave-Maria, mas olho para os lados e não reconheço as
pessoas que estão nos bancos, minha visão está difusa e tento me concentrar no
padre vestido de branco no altar.
Não sei como consegui chegar, não
prestei atenção e nem sei quando a música acabou. Agora o padre fala, mas o som
das palavras não chegam aos meus ouvidos. Faço gestos automáticos com a cabeça,
como se concordasse com cada palavra não escutada. Sorrio para piadas que não
ouvi e, muito menos, achei graça. Tento me concentrar na luz da
vela sobre o altar, não entendo porque tanto nervosismo. Tudo bem, é o meu
casamento. É normal surtar, entrar em pânico, estar fora de si.
Lembro de como foi a minha manhã,
arrumando a roupa, indo para o salão, conferindo a peça nova, que deve
representar a nova etapa da minha vida; a peça emprestada, que me trará bons
frutos nesta relação; a peça azul, que reforça a fidelidade do casal e a peça
velha, que remonta a tradição familiar.
Repasso a escolha das joias que
estou usando, os sapatos que apertam os meus pés e cedo à coceira causada pela
alça do vestido toda trabalhada em pedraria.
Minha visão vai voltando aos
poucos e me deparo com um microfone esperando a minha resposta. Neste momento,
percebo que esqueci de mim. Isso mesmo! Eu não estou no meu próprio casamento.
Meu corpo está todo adornado de noiva tradicional, mas minha alma não faz parte
deste ritual. Sinto-me distante, como se aquilo tudo não fosse para mim e
aceito que esqueci de mim, não me importei com as minhas vontades, com as
minhas crenças, com o que eu sonhei. Simplesmente planejei um dia mágico para
os outros. Eu preferiria estar em um campo, com um vestido leve e solto,
caminhando descalça e dizendo o tão esperado sim à sombra de um carvalho. Mas
esqueci de mim, e tudo o que me resta agora é dizer sim.
Bia Oliver (do blog http://www.leiturasecomidinhas.com.br/)