Caro forasteiro,

Um sentimento melancólico. Senti isso por sua causa. Logo por você, que sempre me alertava sobre os perigos da melancolia e a abominava com todas as tuas forças.  Achei que a força não existia mais em mim, se existisse não a encontrava.  Queria encontrar algo que me fizesse acreditar que a força habitava em mim. Lembrei-me de que era você quem me ajudava a encontrar tudo aquilo quanto buscava, desde o simples ato de encontrar livros na biblioteca pública até palavras para completar meus pensamentos.

Lembra-te da esperança de que tanto me falavas? Foi então que a busquei sozinha no último verão quando resolvi te deixar em espírito, mesmo meu corpo continuando ali em convívio constante com o seu. A decisão de abandonar-te foi tomada muito depois de você já ter feito isso.

Não demorou muito, obviamente, para nos distanciarmos de todas as formas possíveis e, de uma maneira estranha, percebi que a independência que tanto era falada nos meus textos havia permanecido apenas em palavras e tornei-me totalmente dependente de ti. Senti-me inútil. Tornei-me dependente de alguém que não pertence ao lugar onde se encontra. Lidar com outra rotina foi como os primeiros passos de uma criança, só que dessa vez sem ninguém para se apoiar e nem ajudar. As palavras também tornaram a nascer, como se fossem as primeiras da vida, quando não se sabia nem gritar. Foram descobertas atrás de descobertas, até aprender que sempre tive a melhor companhia, uma companhia ímpar, só não a havia descoberto ainda.

Depois de muito tempo percebi que não fiquei sozinha. Nunca estive. Sempre tive a minha companhia. Pode parecer egoísta, mas não trocarei mais minha companhia pela de ninguém, me sinto ótima, me sinto melhor do que nunca me senti em toda minha vida. Lembrei-me que os ímpares existem, e aprendi que os pares nem sempre dão certo. A sua falta me trouxe a melhor presença que já pude ter, a minha. E se um dia sentir vontade, escreva uma carta para mim, mas não envie só por saudade, ou porque gastou o seu precioso tempo fazendo-a. Envie somente se for com amor, mas principalmente se for o amor próprio. Pois dele estou transbordando.

E que nesse barco o amor-próprio possa afogá-lo.

Abraços.



                                                                                               Julyana Alves

Deixe um comentário

O tempo é maior presente que podemos dar à alguém: obrigada pelo seu. As palavras são afeto derretido, que tal deixar as suas? (Caso tenha um site, para que possamos presenteá-lo com nosso tempo,divulgue-o aqui). Forte Abraço.