Não tinha certeza do que estava
fazendo. Parecia uma solução eficaz e acessível. Porém, as notícias e tragédias
envolvidas com essa facilidade me deixavam apreensivo com os possíveis
acidentes e a sensação de superioridade. Ainda assim, eu não tinha escolha. Eu
precisava ser superior aos que se achavam superiores a mim, justamente por
terem tomado a decisão que eu hesitava em tomar. Não queria ser inócuo. Por
fim, resolvi. Comprei a arma, mesmo sendo a mais simples. O nome eu não sabia,
não o quis ouvir. O quanto menos eu soubesse, melhor.
De fato, ter esse objeto não
fazia parte das minhas metas daquele ano, mas morar em Amarillo, no Texas, não
contribuiu muito para que eu não o fizesse. Havia chegado há pouco tempo na
cidade, 2 anos. Viera de Brasília com minha família, não esperava muito, e
cheguei a imaginar que não seria bem recebido. Para minha surpresa e alívio, o
contrário aconteceu. Ainda assim, percebi que era inócuo ao ser abordado por
uma moça, de pele bonita e olhos claros, não importam as cores pois o fato era:
ela estava armada. A cena era inusitada para mim e, no entanto, real. A garota,
apesar de parecer ter a mesma idade que eu, não estava brincando. O mais
engraçado é que eu cheguei a rir por imaginar que fosse uma pegadinha. Ela não
gostou. Agrediu-me, ameaçou-me e levou – não apenas o celular e os tênis, mas
também – meu sossego. Desde então, passei a ser atormentado por amigos,
vizinhos e por uma insistente sensação de desconforto e inutilidade.
Enfim, fiz a compra a contragosto, mas até
então, necessária por vários motivos. As sensações de desconforto e angústia
haviam se dissipado, até me atingirem na cabeça e no peito, quando... percebi
que havia matado meu próprio irmão. Não sei como explicar, com clareza, o que
aconteceu: Eu voltava para casa com algumas compras para a janta, então, um
rapaz, todo coberto devido ao frio, atravessou correndo, uma rua calma e vazia,
em minha direção. Não pensei duas vezes. Na verdade, não pensei em nada.
Gostaria de dizer que foi reflexo, mas não sei se foi. Ali, percebi que eu era
mesmo (sim, mais uma vez) inócuo. Ao olhar para o rosto do corpo caído no chão
e ver que parecia era meu irmão, pensei em vingá-lo, mas quem contaria a
meus pais que os dois filhos foram mortos pela mesma arma, comprada para
garantir proteção? Corri para casa determinado a confessar e consolar minha
mãe, se eu conseguisse.
Mais uma vez não vou conseguir
explicar a sensação que me tirou o fôlego quando cheguei em casa e vi minha mãe
na sala ignorando meu irmão que estava reclamando de mim. Exato, somos eu e
ele. Tentei falar, explicar minha cara de espanto, mas o nó em minha garganta
não deixava! Eu chorei. Me arrependi por ter feito algumas coisas e enterrei a
arma. Então me ajuda detetive, o que aquele homem queria correndo em minha
direção com a mão no bolso? Eu esqueci de conferir.
Jhonnatha Weverton