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Era uma manhã ensolarada de domingo, mesa do café da manhã posta e linda - café feito com muito carinho pela minha mãe - e pássaros cantarolando no jardim. Minha mãe veio até meu quarto, abriu as cortinas e me chamou para o café da manhã, e assim, também, o fez com Maria, minha irmã mais nova. Enquanto meu pai, como de costume, sentado à mesa, lia seu jornal. Estávamos nos preparando para o almoço em comemoração às Bodas de Ouro dos meu avós.

Após o café da manhã, entre brincadeiras e risadas, minha mãe pediu para que eu e Maria fôssemos nos aprontar. E meu pai, levantando-se da mesa, sentou-se em sua poltrona e manuseava folha por folha do jornal. De repente, as páginas do jornal se movimentaram com um vento que acionava todas as páginas do jornal: minha mãe e Maria que se moviam de um lado para o outro. Minha mãe arrumando a cozinha, passando roupa, etc. Minha irmã questionando o que usar. Observando toda aquela movimentação, perguntei ao meu pai:
- Pai, não vai se aprontar?
- Estou esperando sua mãe terminar de passar minha camisa - disse meu pai
- Mas, pai, por que o senhor mesmo não faz isso? - perguntei
- Isso é coisa de mulher, João. Assim que sua mãe terminar, eu irei me vestir. Vá terminar de se arrumar - disse meu pai com a voz brava
-  Tudo bem então, mas hein pai, o senhor sabe onde coloquei meu tênis branco que ganhei do vovô? - repliquei
- Não. Vá até o quarto e pergunte sua mãe, ela deve saber – disse estressado com tanta pergunta
E, assim, fiz o que ele havia me ordenado.
- Mãe, a senhora sabe está aquele tênis branco que o vovô me deu?
- Filho, eu lavei ele ontem e está dentro do seu guarda-roupa, na terceira prateleira de cima pra baixo e atrás do tênis que você comprou na semana passada - expressou minha mãe
Voltei para o meu quarto, calcei meu tênis, sentei no sofá próximo ao meu pai e continuei a observar, enquanto minha irmã gritava incessantemente pela minha mãe.
- Manhê, socorro! Eu não estou achando o vestido que usei no aniversário da Rafa. A senhora sabe onde está? - perguntava Maria
- Filha já estou indo, só um momento - disse mamãe
Minha mãe, saindo do quarto, parou na frente do meu pai e pediu para ele ir se vestir, pois sua camisa já estava passada. Meu pai levantou-se e foi até o quarto. Quando, de repente, o ouço chamar pela minha mãe.
- Amor, traz pra mim um copo com água, aqui dentro está muito quente. E traz aquela bermuda azul que está estendida lá fora, na área de serviço - gritava meu pai
Minha mãe, já suada de tanto andar de um lado para o outro, de fazer isso e aquilo, enfim, consegue entrar no banheiro, tomar banho e se arrumar. Ela saiu do quarto linda, radiante e super animada com o almoço que logo mais tarde iria realizar-se.

Já dentro do carro, com toda a família a caminho da casa do vovô e da vovó, minha mente barulhenta pensava em tudo aquilo que eu havia presenciado naquela manhã. É mesmo o papel da matriarca de cuidar da casa, dos filhos, lavar, passar enquanto o patriarca folheia seu jornal sentado em uma poltrona confortável? É só dela o papel de cuidar dos filhos? E eu como filho, estou disseminando essa cultura?
Então comecei a refletir, sobre mim e minhas atitudes. Eu, cego sob minhas ideologias miseráveis; com aquele papo de que lugar de mulher é na cozinha (risos), hoje tenho vergonha disso, e percebo que foi necessário para o meu crescimento como ser humano e intelectual. Há males que vêm para o bem, não é mesmo?  É errando que se aprende!

Agora, torço para que num futuro próximo, não exista mais esse negócio de “ismo” e que todos possam viver em paz, sem distinção de sexo, cor e raça. Um respeitando o outro, colocando em primeiro lugar aquele sentimento que falta muito nos dias de hoje: O AMOR!


Obs: A historinha contada acima é fictícia, mas é um relato que ocorre diariamente em vários lares brasileiros

Romário Rocha

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