Você quis dançar comigo. E não foi pura e simplesmente por aceitação, você me propôs a dança. Veja bem,você teve a audácia de propor uma dança a mim, logo a mim que sempre estive dançando sozinha, procurando um par para me acompanhar. Dancei com você, dançamos. Você me embalou com tal simplicidade que me enebriou, fiquei tonta de amor. Desequilibrada, desnorteada, recebi seu convite: vem comigo? Fui. Eu bem sei que você pensa que eu não fui, que te recusei, que nunca tentei, mas eu fui. Fui devagar, dando um passo de cada vez e talvez por isso você não tenha visto o quanto eu sempre quis dançar com você.

O problema é que eu sempre fui de me atirar de cabeça, sem medo, sem cautela; disposta a nadar mares e marés; com fôlego para dançar da primeira à última música, mas foi justamente essa coragem toda acabou me desencorajando, antes de você chegar. De tanto me entregar, me perdi; de tanto não hesitar, levei golpes que me vieram a paralisar. Por isso, depois de ter me visto aceitar seu convite para dançar, para você, ter me visto recuar, foi algo difícil de compreender, eu bem sei. Afinal, não foi você quem me roubou a paz e atirou em mim enquanto eu estava desarmada. Não foi você quem me feriu e, por mais que pensássemos o contrário, não coube a você me curar. Eu mesma tinha que  me emendar, para te ser tão inteira quanto você me era. Tão inteiro que se dispôs a tentar me ajudar a reparar o pandemônio que existia dentro de mim, mas, meu bem, não era você.

Não era, e nem nunca foi, você a causa das minhas noites maldormidas e das minhas, constantes olheiras. Na verdade, todas as vezes em que não dormi pensando em você não me fizeram mal algum. Não foi você, com seu sorriso tão largo que fecha os olhos, que me tirou a paz. O seu sorriso, se te apetece saber, sempre me deu paz; ficar sem ele é que me abate. Não foi você, com sua mania de tentar fazer piada das coisas para me fazer rir, que me apagou o sorriso. Inclusive, sempre que me lembro de nossas conversas me vejo rindo sozinha. Os retalhos de nós dois sempre me fizeram bem, mesmo em fragmentos, sempre fomos o bem: eu o seu, você o meu. 

E se não era você, era o quê? Eu. De tanto me doer, hesitei. Você, que também é de amar, sabe como é: a gente, quando se liga a alguém, há de sofrer; sentimento é laço que dói. Nossa história, se bem me lembro, me doeu logo de início, conturbei nosso romance pelo medo de dar errado. Percebe a insensatez? A vida consegue, vez ou outra, acovardar até os mais bravos- como eu. A coragem vacila, vez ou outra na vida da gente. A gente tem hiatos de coragem: são momentos de deserto, nos quais seguimos a vida, um dia após o outro, sem coragem alguma; só de passagem, sem vontade, desejo ou zelo. Só. E foi aí, em um desses desertos, em um hiato de coragem que nos esbarramos, e esse lapso durou tempo suficiente para que você não conseguisse mais ficar. Eu fiquei. Fiquei sentada, vendo você partir, sem agir. Essa é a razão pela qual você nunca me conheceu: esteve comigo enquanto eu não era eu, em uma lacuna do tempo.

Digo lacuna porque a coragem sempre volta. A minha, já começo a ver apontar no espelho, cada dia um pouquinho mais, o tempo tem me levado de encontro a mim, com o tempo, tenho me recomposto, e estado inteira o suficiente para, agora, ver você, e deixar que você me veja. Como você mesmo sabe, o tempo faz bem. Hoje mesmo, depois de tanto tempo, tive um insight, percebi que estou pronta para dançar novamente, dançar de peito aberto e alma entregue e, para completar, queria que meu par fosse você. Será que a nossa música ainda toca no rádio ou viramos um clichê?

com amor, 
Ane Karoline


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