Cheia de certezas, transbordava sonhos e chovia opiniões. Ritmo desenfreado. Adolescente coração pulsante, que não a permitia descanso. Somente acelerava parecia em busca de um amor. A mente era colecionadora de devaneios. Tão pouco tempo vivido e do mesmo modo sentia: tão. As mazelas do mundo carregava nas costas. Tão assertiva, se achava, que não via ninguém. Quando o viu, foi um alívio: um poço de tranquilidade. Alguém que sonhava mais devagar. Alguém que não era nothing but a song without no rhyme. Foi quase imediato: um rompante, um soco. A lâmpada se acendeu naquela cabecinha sonhadora.  Ele tinha o espaço que faltava nela, o descanso que ela queria, a calma que ela buscava, a praticidade que ela praticava - fazia contas como ninguém- e, pelas contas dele, seriam felizes. Era uma graça, graciosa a relação. Quem a via, a via intensa e calma: a cabeça, quando doía, era recostada no ombro dele. Quem o via, o via orgulhoso e levemente inquieto: queria protegê-la. 

Ela tendia a ver demais, ver além da conta, e via nele o lugar para repousar. Era quase escravidão: o tratava como um rei. Fazia das coisas do coração, leis. No começo, o amava com paixão: cegamente. Se ligava, estava interessado. Se não ligava, sem problemas, devia estar ocupado. Se a convidava, era êxtase. Se não a convidava, ela não esperava, quebrava o tabu e o chamava. O colocou em planos, sonhos e canções. Escreveu para ele em emails, cartões, guardanapos de padaria e em seu coração. Deixou que a fantasia do amor a envolvesse, depois da formatura ficariam juntos. Afinal, seria a melhor oportunidade de apresentá-la para a família. A dele, a dela já sabia. Na verdade, quem quer que a visse, saberia. Estava estampado na sorriso tímido que ela dava quando o via argumentar. Paixão, como passa, passou. O amor se tornou a caridade que tudo suporta: doente, ia vê-lo jogar. Só para vê-lo e, quem sabe, fazer com que ele a visse. Deitava-se, todos os dias, com a esperança  virginal de uma criança, a ponto de estar sempre só: esperando um sim ou um nunca mais.

Ele via de menos. Não viu neles o futuro que teriam. O fim chegou quando ela, finalmente, terminou o que ele nem havia começado. Para ele ainda era cedo e ela já não tinha mais tempo a perder. Desistiu, quando percebeu que o primeiro amor, esgotado, estava impedindo o segundo de chegar. Saiu cambaleante: já não tinha mais certezas e as opiniões começaram a garoar. Satisfeita, fora da insensatez da adolescência, aprendeu que essa montanha russa que é o amor, pode nos lançar longe mas nos ensina, também, a frear. 

com amor, Ane Karoline (texto sugerido pela Hidaiana Rosa)

2 Comentários

  1. "pode nos lançar longe mas nos ensina, também, a frear". AIMEODEOS vou choraaaar! Amei, Ane! Que sensibilidade :)
    O primeiro amor é uma coisa doce e forte que todo mundo vai carregar pra sempre.
    Belo texto!

    Hida :)

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    1. Fico feliz que tenha gostado! Fui muito feliz em escrever. Grata pela sua sugestão

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