Nada é capaz de mandar embora o vazio
Noite após noite eu lido com o frio
O espaço que você costumava ocupar
Ouço a minha voz o seu nome chamar
Os ecos de uma vida que já passou
Apenas destroços de um amor que definhou
Todas as cores parecem menos brilhantes
Já nem sinto mais cheiros inebriantes
O gosto do alimento me passa despercebido
Encaro a vida por horas e não vejo sentido
Você é a razão da minha ansiedade
Hoje divido meu quarto com a saudade
Meu peito carrega os hematomas que você deixou
Guarda os pedaços do coração que você despedaçou
E você continua a sorrir todo dia
Não é capaz de perceber a minha agonia
Interage com outros e me deixa de lado
Nem faz questão de parecer preocupado
Você acha que as suas palavras são o bastante
Elas não funcionam com você tão distante
Eu respondo que estou bem, mas não é verdade
Me esforço para não fazer alarde
Não quero ser a razão da sua tristeza
Mas não quero mais viver nessa incerteza
Não aguento mais os gritos em minha mente
Você parece que sequer sente
Eu preciso conseguir dormir à noite
Mas suas memórias são meu açoite
E eu começo a achar que gosto da dor
Ou então estou confuso pelo torpor
Estou a ponto de ir adiante
Deixar você no retrato da minha estante
Abrir minha vida para novas possibilidades
E deixar você com suas banalidades
Eu queria que você sentisse metade do eu sinto
Meu amor não cabe em nenhum recinto
Mas o seu dá pra carregar no bolso
O meu é arte, o seu esboço
O meu cresce diariamente
O seu ainda é semente
O problema é que você não quer plantar...
Adolfo Rodrigues