foto por: Ane Karoline



Além dos dias bons, das linhas bem escritas, das tardes de Sol, dos beijinhos na testa e das risadas. Além dos dias em que tudo caminha para o bem. Além dos momentos em que brilhamos e nos sentimos dignos, merecedores de gentileza. Além desses dias e momentos, existem os outros. Os outros são aqueles momentos em que não conseguimos ver tanto brilho, são momentos em que parece os motivos para a bondade não são suficientes. Os outros, são os momentos em que a gentileza não, parece fazer sentido e nem, tão pouco, efeito. Foi em um dos outros que eu fui capturada. Afinal, os dias sem brilho são tão mais comuns, não é mesmo?
Em um desses dias sem Sol, sem brisa e sem cor fui capturada pelo amor. Achando que entendia muito sobre gentileza e amor (aquele trágico erro humano: achar que entende de alguma coisa) , lá estava eu seguindo a trilha de mais um dia cinza, sem reparar pessoas, coisas, cheiros ou cores. Sentei-me em qualquer lugar e pus-me a ler qualquer coisa quando senti alguém aproximando-se. Não olhei, afinal, não queria conversar. Pela dificuldade em sentar-se no banco, percebi que o alguém era uma criança. Pior. Crianças fazem muito barulho. Senti-a espiar o que eu lia, espiar-me: minhas roupas, minha posição, minha alma. "Tia, olha essa florzinha que cheirosa. Vou te dar ela. Toma." Olhei a criança. Um metro e trinta de altura, cabelos bagunçados, mãozinhas sujas, bochechas coradas. Olhei a flor. Meio despedaçada, perfume exalando. Peguei-a. "Obrigada." A criança sorriu. "Acho que você precisa dela mais que minha mãe." Nem pensei. "Você acha que preciso melhorar meu cheiro?" A criança pareceu alarmada. "Não, tia. É para você se lembrar que você tem um cheiro bom, Minha mãe sempre me diz uma coisa que tenho de bom quando eu estou triste." Não tive tempo de agradecer, nem de pensar em agradecer. Ela saiu correndo e pulou no colo da mãe que nos olhava sorridente. 
Já li, reli, ouvi, escrevi e assisti muitas coisas sobre o amor e sobre a gentileza mas nada, na experiência de vida humana, consegue ser mais forte que a sensação. Naquele dia cinza, eu vi o rosto e o cheiro da gentileza. A única coisa que lamento é não tê-la abraçado e dito que aquilo foi mais gentil que o necessário. E se o gentil já é bom, imagine só o mais gentil que o necessário, mais gentil que o conveniente, mais gentil que o pedido, mais gentil que o escrito em revistas e na coluna de domingo.
Guardei a flor na página do livro que, coincidentemente, dizia "Vamos criar uma regra de vida...sempre tentar ser um pouco mais gentil que o necessário?" para me lembrar de criar essa regra, ao menos, em minha vida. E, já tentando ser mais gentil que o necessário, resolvi compartilhar essa experiência com todos (além dos envolvidos nas referidas gentilezas).
Há algumas semanas, criei uma enquete para a escolha do próximo desafio do blog. As pessoas que votaram, em sua maioria, escolheram o desafio intitulado "Ser mais gentil que o necessário"- o que significa que meu anjinho da flor não é a única pessoa interessada no assunto. Estava, ainda, ponderando a hipótese até ser capturada pela gentileza em um dia cinza. Sendo assim, relatarei os fatos do desafio de ser mais gentil que o necessário por sete dias. Quem sabe não estou criando um hábito para a vida? Caso você queira me acompanhar, queira me contar, compartilhar uma ideia ou experiência, sabe como me encontrar. Podemos tentar juntos e, no mínimo, ter boas histórias para contar. Vamos lá? Se cada um de nós, for um pouco mais gentil que o necessário o mundo vai ser um lugar melhor.


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