imagem por: Ane Karoline


Tempestiva. Foi a palavra que ele usou para descrevê-la - assim como tantos outros e outras o fizeram antes. "Você faz uma tempestade em copo d'água". E fazia mesmo. Tachavam-na exagerada, desmoderada, sempre cheia de manias hiperbólicas, sentimentos abundantes, sempre exagerada: tempestade em copo d'água. Vou ter que discordar. O que vejo daqui, é que o verdadeiro exagero é querer ver alguém partindo do que se é, crucificar e maldizer a profundidade de alguém para justificar a própria falta de coragem e insistência em ser raso. Isso sim é um grande exagero, exagero de egoísmo.
Digo isso pois a vi tentar ser garoa, tentar conter sua tempestade para que coubesse em copo d'água. Que padecimento! Ela, por vezes, pensava "não vou dizer nada, vou esperar que ele diga.", "melhor esperar.", "não vou ligar", "não vou dizer", "vou falar menos"... Sufocou-se com tantas emoções e apenas permitiu-se dizer, vez ou outra, "eu te amo". Quando o fazia, quando liberava toda a tempestade naquelas três palavrinhas, recebia, em troca, o silêncio. Viu-se, então, metida em um jogo de gente rasa sem saber as regras. E, então, perdida no labirinto da própria tempestividade, tentando fugir de si mesma, tentando colocar sua tempestade em um copo.
Quer saber? Preste atenção: não vale a pena. Não vale o peso, a carga, a sentença, o castigo e o sofrimento, não vale. É isso mesmo, não jogue com ele. Entregue os pontos e saia do jogo. Deixe-o jogar sozinho, brincar com a própria sorte e com os próprios sentimentos. O amor não é um jogo e, definitivamente, onde há joguinhos não há amor. Esqueça toda essa história de que deve ser difícil e complicado. Esqueça esse papo de quem fala primeiro, quem ignora mais e quem demora mais a aparecer: jogue tudo isso no lixo. Se tiver de ignorar, ignore a ideia de ocultar o apreço. Se tiver que demorar, demore-se nesse amor que não tem preço. Não inventa, não entra nessa de desaparecer: só perde quem não quiser caminhar com você. E, definitivamente, esquece essa ideia de que há algum mal em tempestade ser.
Chova, chova sem dó. E, tempestivamente, lave da sua vida os nós. E, depois da tempestade, quando quiser ser Sol brilhe. Brilhe sem cogitar, sem esperar, sem esmagar, sem tentar se ocultar. Não há mal nenhum em ser tempestade que cai, se joga de uma vez, sem meio termo, sem joguinhos, sem achismos e sem poréns. Não há mal nenhum em ser tempestade que chega sem hora marcada: era Sol há alguns minutos e agora já não é mais. Tempestade é isso mesmo: agora chove, daqui a pouco não chove não e daqui a pouco é arco-íris. Não há mal nenhum em ser tempestade. Há mal, sim, em querer colocar uma tempestade em um copo d'água. Dá próxima vez, recuse-se a estar com quem quer te colocar em um copo d'água. O céu é bem maior que isso, tempestade.

O texto foi escrito em resposta a um e-mail de um/uma de nossos/nossas leitores/leitoras que prefere não se identificar. Quer compartilhar algo? Conversar? Mande o seu também para: papocomjulieta@gmail.com

Forte abraço tempestivo e cheio de amor <3





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