A crise é necessária mas o seu valor só pode ser reconhecido depois que a mesma é superada. Enquanto a fase é aquela de dormir tentando esquecer e acordar querendo ter, a gente se afunda mesmo.
 No começo a gente se culpa, passa dias repetindo e proclamando a nossa burrice, horas se martirizando por ter deixado o amor florescer, noites pensando em como nos deixamos chegar no fundo do fundo. Mas toda essa bagunça é durante a noite: a noite é propícia para o desespero. Mas, depois da noite, sempre amanhece e quando amanhece a gente começa a culpa o outro. A crueldade alheia parece clara, a gente passa dias se convencendo de uma certa canalhice, horas remoendo cada palavrinha que foi dita e ouvida, minutos e minutos arquitetando como causar a mesma aflição que nos foi causada. 
  E depois? Depois o tempo faz seu trabalho, as ideias clareiam, a gente sai do fundo do poço e percebe que a culpa pela crise deve ser atribuída à ambas as partes. Mas, se formos calcular direitinho, nem se juntarmos a parcela de culpa de cada uma das duas almas confusas envolvidas em uma crise desse cunho, conseguiremos identificar os 100% de culpa, sabe porque? Porque foi a vida quem quis escrever as coisas assim, às vezes a gente tem que escrever uma página, ou capítulo, na vida do outro mesmo. E a gente descobre que a caneta está em nossas mãos lá no início,  quando os olhares se encontram pela primeira vez. E, francamente, é muito bom. É muito bom porque a gente se transforma no amor, sem nem precisar mostrar: simplesmente somos o amor por um certo período. O que a gente não descobre na troca de olhares inicial é que é só por um certo período, essa compreensão se assenta depois de uns bons travesseiros molhados. 
  E mesmo no fim, quando passa, não há como dizer que não lamentamos o fato de não sermos mais o amor: lamentamos sim. Mas há algo que merece um lamento maior: sermos o desamor. É lamentável saber que os olhos não vão brilhar ardentemente ao encontro e que o coração não vai acelerar mais ao toque. E, sobretudo, é lamentável ver um coração jogado na sarjeta por um alguém qualquer, quando poderia estar aquecido pelo amor que foi. Foi porque, pelo menos um dos lados foi o amor. Foi, não é mais. 




Ane Karoline

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