Era
só mais um dia comum. Mas, acho que é sempre assim que acontece. Um dia como
todos os outros, algo acontece, a notícia chega, e te atinge como um tiro no
peito. Infames de nós, que vivemos nossos dias alheios à chance intermitente de
que algo grande aconteça. Foi assim que a notícia chegou. Me atingiu como uma
flecha.
Estraçalhou
o teto de vidro sobre minha cabeça, fazendo diversos cortes diferentes em mim.
A chuva de cacos cascateou sobre minha face, que encarava o céu. A dor escorreu
como sangue. O choque gelado, o medo avassalador que devorou minhas entranhas.
Um frio invernal, meus dedos tremiam, apesar de o termostato não registrar
queda na temperatura. Era eu. O frio vinha de dentro.
Me
peguei pensando nas pessoas a que amo. Onde elas estavam agora, o que estariam
fazendo, se estariam em segurança. Me perguntava se uma doença arrebatadora não
dormia dentro de nenhum deles, apenas esperando para despertar e gerar o caos e
o sofrimento que elas causam. Foi assim que os últimos raios de sol do meu dia
se despediram de mim. Cravaram firme uma ferida, entalhada na rocha do meu
coração.
Acima
de tudo, sou uma pessoa naturalmente pessimista. Meu maior medo é perder a quem
amo. Queria eu ser aquele a partir, em minha egoísta forma de pensar, para que
não fosse necessário sofrer pela partida deles. Mas isso é apenas meu egoísmo
tentando encontrar uma solução que sirva para mim. Sei que agora sou mais
necessário do que nunca. Alívio.
A
verdade? A verdade é que não estou pronto. Nenhum de nós está. Mas, me sinto
ainda mais despreparado, desestabilizado, para lidar com isso. Afinal, ninguém
quer uma pessoa amada em tal condição. É a sensação de impotência que assombra.
É ela quem nos faz tremer na base, chorar escondidos, ter nós na garganta que
doem como arame farpado.
Meu
coração está pesado. Seu ritmo desajustado, e minha mente atormentada com todo
tipo de hipóteses. Mal de quem pensa demais, rápido demais, criativo demais.
Enquanto aproveito o silêncio de uma solidão proposital, elas escorrem de mim. Cada
uma carrega um pouco da dor embora. Pena que há dor demais e lágrimas de menos.
Talvez
minha reação seja exagerada. Contudo, sou exagerado. Há uma chance de que se
procurar pela palavra exagero no dicionário, ache uma foto minha lá. Se não
concorda, é por que eu me limito. Me controlo, me ajusto e me camuflo. Tento
verdadeiramente encontrar o ar para respirar, dentro desse turbilhão que me
afoga. Apenas minha mão alcança a superfície, e o fôlego em meus doloridos pulmões
está em seus últimos momentos.
Quando
enfim consigo engolir uma golfada do tão precioso ar, a água me arrasta
novamente, em um ciclo ininterrupto de dor e alívio. Espero, no fundo do meu
ser, pelo melhor. Torço em silêncio, para que o meu pessimismo seja
contrariado, e derrotado, dessa vez. Me diminuo um pouco, para que a tempestade
não alcance outros. Fujo para o meu recanto mais seguro, as palavras. Pois são
elas, minha melhor forma de vazão.
Apenas
mais um dia, de muitos que virão. O sofrimento endurece a carcaça, mas jamais a
torna indolor. Sigo adiante, mesmo que pisando nos cacos de vidro, pois, a
única direção em que posso seguir, é em frente.
-Adolfo Rodrigues