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Uma certeza a respeito da
vida, é que ela muda. Sejam as situações, as pessoas, os lugares ou você mesmo.
Tudo muda. Às vezes de forma programada, outras repentinamente, dando-nos a
sensação da perda de controle. O medo e a ansiedade de ter nas mãos uma situação
completamente fora de ordem. Refletindo bem, a mudança é o estado necessário
para a vida, pois, é através dela que ela é concebida.
O primeiro momento em que
temos consciência da vida é a transição do nascer,
onde somos arrancados da nossa zona de conforto e expostos a um mundo
barulhento, muito claro e doloroso. Depois disso, tudo gira em torno da
mudança. O alimento muda, as sensações térmicas, as dores e medos. Então os
cabelos mudam, surgem os dentes, as pernas esticam, a fala se desenvolve e o
crescimento progride.
Logo mudamos de uma
escola para outra, de uma casa para um apartamento, então de novo para uma
casa. Ganhamos um cachorro, então um peixe, perdemos o peixe, ganhamos uma
bicicleta. Fazemos amigos, perdemos esses amigos por mudar de escola. Brincamos
com os primos, e depois não brincamos mais, porque fomos morar em outra cidade.
Gostamos de um desenho, e depois perdemos o interesse. Tudo ao nosso redor, é
mudança.
Então, no dia em que uma
pessoa amada, com quem estamos há tanto tempo, se prepara para partir, o
coração dói. A antecipação da ausência. A ausência da voz, do toque, do cheiro,
da presença. A ausência da segurança, da sensação e das memórias. A mudança na
rotina, na certeza que aquele alguém nos proporciona. É como uma facada gelada
no coração, que atinge em silêncio, causando uma tempestade dentro, que nem
sempre é expressada fora.
Mas não podemos impedir a
mudança. Nem a nossa, nem a das pessoas ao nosso redor. Assim, relações são
desfeitas, amigos vão para longe, pessoas de quem gostávamos se tornam
inimigos, e vice-versa. Pode parecer que não, mas, tudo ao nosso redor está em
constante mutação. O sentimento de não ter absolutamente nenhum controle da
nossa vida pode assombrar, assomando sobre nossas cabeças, como uma nuvem de
chuva.
Então um dia chega uma
mensagem. Ela está vindo te visitar pela primeira vez depois de anos. Sim,
aquela pessoa querida que mudou para outra cidade. Estará aqui em apenas alguns
dias. É como se um pequeno sol se iluminasse dentro de nós. O caos do dia a dia
dá uma trégua, por alguns instantes, para que possamos apreciar o prazer do
retorno. O coração acelera, ela está aqui. Chegou e podemos nos ver novamente.
O abraço conhecido, o
toque comum, esperado, representando a saudade como um ser vivo. Mergulhar nos
braços das memórias, da segurança do amigo. A alegria vem e muda. Muda a rotina
monótona, acrescenta aos momentos banais, torna cada instante precioso. O valor
que damos àquilo que perdemos, é incomparável.
Mesmo que em alguns dias
ela tenha que partir novamente. Mesmo que aquele pequeno espaço de tempo não
seja o bastante para matar a saudade, a melhor coisa a respeito da partida, é o
prazer, do retorno...
- Adolfo Rodrigues